Que hei-de fazer, amigo?! …
Parece-me que estás a morrer,
amigo,
E não sei o que hei-de fazer…
Ponho-me agora a escrever
Para me enganar nesta angústia!
Ontem à noite ainda ladraste
Quando vieste esperar-me ao portão,
Saltaste ainda como gostavas de saltar,
Como um cabrito, cão de neve,
E foste para a porta da casa
Onde comeste,
Onde sempre comias,
Quase ao pé de nós, livre, cão de
campo,
Amigo, como um de nós!
Dei-te os remédios e um arroz de
dieta.
Fiquei contente, comeste bem!
Hoje de manhã estavas deitado,
Já não vieste, como sempre vinhas,
Não te levantaste, tu já um pouco
afastado da casa.
Deitado, dei-te o remédio como a um
acamado.
És um cão de idade,
Eu sei,
E sei que temos um dia que nos
separar.
Reparei até, sem saber porquê,
Que te foste afastando da casa,
Um pouco mais longe na relva
deitado
Em vezes no dia quando de novo te
via…
Eu sei que temos um dia que nos
separar!
Mas que posso fazer a estas
lágrimas
Quando, agora assim tu deitado,
Abres devagar os olhos
E me olhas com esse olhar!
Que hei-de fazer, amigo?! …