quarta-feira, 14 de março de 2012

Que hei-de fazer, amigo?! …




Que hei-de fazer, amigo?! …

Parece-me que estás a morrer, amigo,
E não sei o que hei-de fazer…
Ponho-me agora a escrever
Para me enganar nesta angústia!
Ontem à noite ainda ladraste
Quando vieste esperar-me ao portão,
Saltaste ainda como gostavas de saltar,
Como um cabrito, cão de neve,
E foste para a porta da casa
Onde comeste,
Onde sempre comias,
Quase ao pé de nós, livre, cão de campo,
Amigo, como um de nós!
Dei-te os remédios e um arroz de dieta.
Fiquei contente, comeste bem!
Hoje de manhã estavas deitado,
Já não vieste, como sempre vinhas,
Não te levantaste, tu já um pouco afastado da casa.
Deitado, dei-te o remédio como a um acamado.
És um cão de idade,
Eu sei,
E sei que temos um dia que nos separar.
Reparei até, sem saber porquê,
Que te foste afastando da casa,
Um pouco mais longe na relva deitado
Em vezes no dia quando de novo te via…
Eu sei que temos um dia que nos separar!
Mas que posso fazer a estas lágrimas
Quando, agora assim tu deitado,
Abres devagar os olhos
E me olhas com esse olhar!
Que hei-de fazer, amigo?! …

José Rodrigues Dias, 2012-02-08

6 comentários:

  1. Vejo que o poema foi escrito o mês passado e espero que o seu amigo esteja melhor.

    Li este poema com um aperto no peito. Faz agora dois anos que se foi embora amiga, muito amiga, a minha boxer muito querida. Viveu connosco quase 13 anos e foi uma lutadora, uma brava lutadora. Na família ela era uma de nós, irmã dos meus filhos, neta dos meus pais, uma menina que amávamos como se ama um ente muito querido.

    Por isso percebo bem o sentido das suas palavras. O que a mim (e a todos nós) custou a fase da velhice e das doenças que vêm no final é difícil descrever. Ainda hoje me custa falar nela. E os meus filhos têm fotografias dela em molduras como têm de outras pessoas da família.

    Tomara, pois, que o seu amigo ainda esteja bem e que continue convosco por muito mais tempo. Gostamos tanto de os ver bem, não é? E sofremos tanto quando os vemos fracos e tristes, não é?

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  2. Cara UJM:

    Partiu logo. Custou. Custa. Só quem passa por isso é que sabe. A outros parece estranho.

    Obrigado.

    J. Rodrigues Dias

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  3. Caro Professor
    Já vão longe os anos 81-85, durante os quais estudei Economia na Universidade de Évora. Tive a honra de o ter tido como Professor de Estatística....
    Recentemente descobri o seu blog e a sua paixão pela escrita...
    Continuarei a acompanhar....
    Desejo-lhe as maiores felicidades

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  4. Cara Maria d´ Aires:

    Lembro-me de si. Nada melhor para um professor que ter um aluno de volta. É o melhor poema que pode ter.

    Muito obrigado e muitas felicidades também para si.

    J. Rodrigues Dias

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  5. Poeta:
    Tenho estado a ler os seus poemas, de que estou a gostar muito.
    Cheguei a este do Cão. O meu tem os dias contados. Um dia destes, vai partir. Já não anda, só ao colo.
    Chorei, estou a chorar. Pelo seu, pelo meu, por outros, que se tornam membros de família.
    Um dia destes, entrarei em casa, e só o silêncio se vai ouvir.
    Não quero mais nenhum.
    Maria

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  6. Cara Maria:

    Percebo bem o que sente e diz.
    Não sei o que mais lhe dizer.

    Quanto à sua apreciação dos poemas, agradeço-lhe muito a simpatia.

    J. Rodrigues Dias

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