terça-feira, 14 de abril de 2015

Descobrir



Descobrir


Mestre,
Ideias novas não surgem,
Apesar de tanto pensar!

Apesar de tanto pensar,
Ideias não emergem,
Mestre!

Olho de um e de outro lado,
Como me tens tanto ensinado,
Olho o caminho já caminhado,
E nada, nada de novo vislumbrado!

Que problema, mestre!

Estou cansado, olhos sem ver, enraivecido,
Quase tudo me parecendo ter esquecido;
Mas lembro-me de ti a dizer
Que solução há-de haver!

Dizes-me que talvez este ainda não seja
O tempo para o meu fruto colher,
Por tempo ainda o fruto não ter
Para, naturalmente, amadurecer.
Dizes-me ainda que tranquilo esteja
E a reflexão ao sol deixe a aquecer.

Olhos semi-cerrados,
Abertos e fechados,
Vendo sem ter de ver,
Por profundo saber,
Em sábio gesto de mundo abarcar
Dizes-me ainda para descansar e olhar!

Olha!

Olha a borboleta lá fora,
A chamar-te,
A voar na primavera,
Voando de flor em flor,
Em hino ao amor.

Olha,
Faz isso, vai com ela,
Procura a luz,
Olha o céu,
Voa, voa, voa,...
E volta,
Tranquilo!

Volta então à tua reflexão.
Fixa bem os pressupostos,
Define bem os objectivos
E parte, decidido, a caminhar,
À procura da certa solução
Que decerto vais encontrar.

Minimiza o duro caminho,
Que é duro o caminho
E, quantas vezes, difuso,
Em nevoeiro escondido.

Chora quando tiveres que chorar!

Vê os desvios do caminho,
Assinala-os com raminhos de acácia
Mas não te desvies do traçado primordial.

Talvez a eles possas voltar mais tarde,
Quem sabe se para muita sede
Poderes então saciar em inesperadas fontes
Que neles poderás então encontrar,
Para novas lágrimas poderes chorar!

Mas não te deixes agora inebriar.
Olha os pressupostos e os objectivos;
Olha apenas o caminho principal,
O caminho principal!

Ao caminhar,
Faz como o vedor,
Mesmo que nele não acredites;
Sente os sinais,
Mesmo que sinais
Não te pareça encontrar.

Há sempre sinais!

Vai caminhando,
Pára de vez em quando,
Refresca a mente,
De lágrimas eventualmente,
E sente!

Há sempre sinais!

Sente o pulsar do coração 
E o pular do pensamento!

Caminha e sente,
Que há sempre sinais!

Há sempre sinais!

....

Sim, mestre,
Estou a sentir,
A ver afloramentos,
A fazer acontecimentos,
A descobrir!

Obrigado,
Mestre!


José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Tartaruga Editora, 2010.

Sem comentários:

Enviar um comentário