sábado, 18 de abril de 2015

Sagres



Sagres


Naquela ponta de Sagres, a ocidente,
Tão pequenino, embrenhado no sagrado,
Olhando o Astro a entrar naquele profundo mar,
Como poderia o Homem imaginar a Terra a rodar
À volta do Sol, se ele ali o via, deslumbrado, soterrado,
A entrar no mar da Terra e no outro dia, do outro lado,
De novo o via em amarelo a desabrochar a oriente?...

Quem tal não diria, ali, naquele poente,
Ali, naquele místico pôr-do-sol, em queda milenar,
Que outra coisa, Galileu, qualquer outro movimento,
Não seria uma louca e perigosa heresia? …

Então, qualquer um, lúcido, em paz profunda, ali não via
O que toda aquela santa gente ali sentia,
O que tão simples e puro ali acontecia?...

Só não compreenderia um louco…
Louca a Terra…
Terra louca,
Que a Terra roda
Quando roda a cabeça de um louco…


José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Tartaruga Editora, 2010.


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