quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Solstício de Inverno





Solstício de Inverno


O Sol desce, desce, desce…


Como em precipício, decide parar…
Parece pensar na queda dos dias
e a vida de todos a querer segurar…

Já no dia de solstício,
o Sol decide a vida retomar…
E é de novo um início…

A palavra volta pura das fontes,
adormecidas e mortas as pragas
e aquelas ervas daninhas do ano…

E os dias tristes voltam soalheiros,
frios primeiro ainda
como em fase última de purificação…

As raízes sonolentas 
acordam
desabrochando mais...

As noites são de mais luz,
as madrugadas de mais manhãs,
os dias são de mais calor...

Que sejam de mais amor…


José Rodrigues Dias, 2011-12-20

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Repuxos




Repuxos


Não sei se os repuxos
descansam, se dormem, o jardim em silêncio,
se têm tempo de noite...


José Rodrigues Dias, 2106-10-31

sábado, 29 de outubro de 2016

Amiga




Amiga


Olha, a luz das estrelas existe
Como existe a luz do pensamento,
Mais fortes que qualquer escuridão.
Continua a segui-las com a força que sei que tens
E a sabedoria, crescendo, que sei que procuras.
Eu continuarei, sempre que algum tempo tiver,
Olhando o eterno belo em luz de lua
Em ti reflectida sempre que puder!


José Rodrigues Dias, "Traçados Sobre Nós", Chiado Editora, 2011, pág. 52 (104 pág.s).

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Badana da capa




Badana da capa


Do livro
Poemas daquém e dalém-mar,
a chegar...


José Rodrigues Dias, 2016-09-29

sábado, 1 de outubro de 2016

Badana da contracapa




Badana da contracapa


Do livro
Poemas daquém e dalém-mar,
a chegar...


José Rodrigues Dias, 2016-09-29

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Equinócio do Outono




Equinócio do Outono


Menores as noites
e nos olhos talvez sombras,
quase tudo se vendo com a luz do tempo
como as pequenas coisas de nada
e até os pequeninos seres decrescentes
e mesmo a fraqueza dos homens
em sorriso frágil 
disfarçada 
para além dos corpos estendidos
com a desnudada beleza
ao Sol…

Depois do colorido tempo
ressequido
outro tempo vem quase monótono
em tons e sons
e a senhora dona Lua de face prateada
ao Sol dourado clama por igualdade;
as árvores desfrutadas começam a adormecer
com o prenúncio de ida nas entranhas marcada
em voos de retorno anual
da passarada…

Por fim, não demora a tardinha a chegar
no caminho de um olhar da gente
talvez menos luminoso
e menos quente…


José Rodrigues Dias, 2012-09-25

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Bombeiro


Bombeiro


Quando há um homem tolo
E um rastilho
E se levanta o fogo
E quando o vento forte sopra
De um para outro lado
Que até o chão leva,
Pode pouco
O homem…


José Rodrigues Dias, 2013-08-29

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Paz


Madiba faria hoje anos.


Paz
(lembrando Mandela)

Gostaria que um dia se dissesse
Que os tons da pele dos homens
São iguais nos seus corações
E que neles secasse a inútil fonte
De um mar salgado de milhões
De lágrimas choradas de divisões.

Gostaria que um dia se dissesse
Que houvesse paz e que a paz
Livre nos corações se fizesse.

Gostaria que um dia se dissesse
Que era uma lembrança a guerra
Dos tempos da primitiva Terra.

José (J.) Rodrigues Dias, 2011-07-18

sábado, 18 de junho de 2016

Saramago


Resultado de imagem para saramago
Recordando José Saramago
Poema escrito há precisamente seis anos, no dia da sua morte.


Saramago

No dia seguinte ninguém morreu, disseste,
Livro abrindo;
Morte em intermitência…
Hoje, disseram que morreste,
Notícias abrindo;
Morte em permanência…

Agora, José, que morreste,
(Morreste?)
Que outro mar passaste,
Como que a caminho de outra Lanzarote,
Diz, José, há vida em morte
Como há morte em vida sem sorte?
Ou sem norte?
Há intermitências de vida em morte?
Há dor e amor?
Há Criador?

Morto vivo, renasceste depois de morto.
Hoje, morto?
Morto, manter-te-ás vivo, morto!

J. Rodrigues Dias, Poiesis, Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea, Vol. XIX,  Editorial Minerva, 2010. 

segunda-feira, 28 de março de 2016

Páscoa, celebração



Páscoa, celebração


Por entre restos um pequenino pinheiro
onde outro tombou,
por entre nuvens
Sol,
por entre ruínas
flores,
Primavera…

Harmonia, balança, beleza,
matizada sinfonia,
liberdade, o cante, a canção…

Celebração da vida e da natureza
com o borrego de Páscoa
no campo
em renovação
neste Alentejo sem dimensão…

2013-04-01


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 2016

domingo, 27 de março de 2016

Páscoa


Páscoa


A Luz irrompe das trevas,
da terra funda
que foi túmulo,
porque a Luz é mais forte
que a morte
e o que a morte inunda…

A Luz rompe a pedra
que a cobre,
irrompe em novo dia
e se eleva…

O pássaro que na noite jazia
no jardim sob um manto de folhas
pressente a Luz
pelo despertar da manhã,
acorda o Sol
e canta a Primavera
e a harmonia!

E canta, canta,
canta
para todos nós!

Passagem a outro tempo
de recriação,

como Luz
em ovo
que se abre
em movimento

(de Alfa para Ómega),

sem sombras os olhares,
os olhos límpidos
de milagres
como a Luz…

2014-04-20


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Forinfor, 2016.

sábado, 26 de março de 2016

Sabbatum Sanctum


Sabbatum Sanctum


Dia de espera,
espera
de esperança
de vida
de túmulo nascida…

Quem espera
alcança…

Dia da Senhora da Solidão,
filho no chão,
irmão,
tempo de solidão…

Por que tanto se desespera,
tanta guerra,
irmão?

Tempo de espera,
de solidão...

2014-04-19


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Forinfor, 2016

sexta-feira, 25 de março de 2016

Sexta-Feira Santa


Sexta-Feira Santa


Crucificado,
traído,
Cristo,
hoje morto…

A morte,
momento de passagem,
três dias,
Páscoa,
uma imagem...

A vida,
todo o outro tempo…

Aqui, noutro império,
crucificados,
traídos,
mutilados,
sem quase próprios pecados,
durante quanto tempo
a passagem?


2014-04-18


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Forinfor, 2016.

quinta-feira, 24 de março de 2016

Quinta-Feira Santa


Quinta-Feira Santa


Chegou a noite, cansado,
grande já o dia, Sol alto e grande,
trabalho variado, queimado,
meados de Abril…

Morreu Gabriel García Márquez,
dia de solidão,
Cem Anos de Solidão

Jorge Amado, do mesmo lado do mar,
já tinha morrido…

Cristo morre amanhã
traído,
ceia hoje com os discípulos
em partilha:

 tomai e comei…,
bebei…,

o meu corpo…,
o meu sangue…,

em memória de mim…

 Entretanto, longe, lá muito longe,
é descoberto talvez um gémeo,
ou talvez um vago primo,
desta Terra que dura pisamos,
pó e barro,
água e pedras,
quase do mesmo tamanho,
chamaram-lhe Kepler,
Kepler qualquer coisa,
pode ter nascido planeta vivo…

(Da vida, quem sabe o quê?)

Morreu hoje Gabriel García Márquez…

Cristo morre amanhã, Sexta-Feira Santa.
Ressuscita ao terceiro dia,
no dia de Páscoa,
Primavera…

2014-04-17


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 2016

domingo, 20 de março de 2016

Equinócio da Primavera




Equinócio da Primavera

  
Maiores vieram as sombras, os negros e as noites
envolvendo as coisas, os homens e a própria luz,
o olhar da gente caído de frio,
cinzento o tempo de solstício.
Assim era!
E assim foi!

Mas, depois, com o tempo do Sol
faz-se um novo tempo,
o dia mais dia,
a noite menos noite…

Os rebentos despertam
com a chegada da passarada
e a manhã apressa-se.

Demora-se a tardinha
no caminho de um olhar
mais caloroso da gente…

2012-03-20


José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 
Forinfor, Março, 2016.

terça-feira, 8 de março de 2016

Mulher


Museu do Aljube, 
Resistência e Liberdade, Lisboa.


Mulher


Como seria inteira 
no correr do tempo a história
se a mulher ausente?...

A mulher resistente, 
vigilante, constante, memória,
mulher companheira!...

Inteira só a história
com a mulher e companheira
e é com a memória!...


José Rodrigues Dias, 2016-03-08

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Vê, Tomé!... (Vê, Einstein!)





Vê, Tomé!...
(Vê, Einstein!)


Entretecendo mil ideias,
tecendo o espaço e o tempo,
o tolo tudo concebendo...

Bastas ideias muito loucas,
postulados e outras coisas mais
como de gradientes e rotacionais,
orelhas um pouco moucas,

viajando de Newton para umas ondas gravitacionais
como as de uma criança atirando pedras a um lago
deslocando umas plumas leves dum pato sossegado,

mas em outras dimensões
e a coisa com outra dimensão,
buracos negros, buracões,

onde a luz se perto passasse
se dobrasse,
caísse
e adormecesse...,

só vendo, como Tomé
(Como?... A luz ali anoitecia?...),
eis a humana conclusão...

Antenas no espaço e no tempo
orientadas como dedos espetados
e eis as plumas em movimento!

Vê, Tomé!...


José Rodrigues Dias, 2016-02-12

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

SNS, o teu poema perfeito


António Arnaut

Parabéns, 
hoje, 28 de Janeiro de 2016, 
dia de aniversário (80 anos).


SNS, o teu poema perfeito

(Pequena homenagem a António Arnaut,
obreiro do Serviço Nacional de Saúde, 35 anos depois)


Teu o poema perfeito

(em tempo: digo quase perfeito
por no tempo se ter retrocedido,
tu triste, magoado, ofendido,
o poema a sentir-se desfeito…),

de ti, luz de vela, o sonho nascido
a régua e a esquadro,
aberto, bem aberto, o compasso,
todos à ordem,
o horizonte largo,

poema verso a verso burilado
em cada letra soletrada em nova palavra
em chão matizado em lavra
de solidariedade,
cada homem um irmão,
qualquer o seu género e a idade,
braços abraçados,
mão na mão,

eis, mundo inteiro,
o poema,
eis a saúde
feita aqui universal
e do homem um direito,
ei-la,
a saúde!

A saúde,
ei-la
em liberdade!

E, assim, Homem,
teu o poema justo e perfeito
na luz iniciado,
a constituição
livro primeiro sagrado!

De ti, poeta e obreiro de oriente,
o poema perfeito
(pelo tempo feito imperfeito)
no peito da gente,

o teu poema decerto preferido
verso a verso construído,

em cada verso um nome,
o nome de cada homem nascido,

não importando
quem é,
a quem pertence o sobrenome,
de que gente é o homem
que ali está dorido
como outro qualquer nascido,

apenas se indagando
com o coração
e as ferramentas na mão,
auscultando...

Senhor, onde lhe dói,
onde começou, quando, como foi,
onde é a sua dor?

Senhor doutor, mas quanto será?

Será o que for,
senhor,
não importa o que custará,
será o que tiver que ser,
vamos é ver
essa dor
e outra dor precaver...

Senhor,
vamos lá ver
essa dor…


José Rodrigues Dias, 2014-09-15

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Nu


Aragão Humberto
Fotógrafo amador brasileiro premiado internacionalmente,
Pai do Prof. Humberto de Aragão (São Paulo).

[Humberto Aragão (A.B.A.F), Nu. 1952.
Fonte: Catálogo do V Salão FCES.]

Outras fotografias e poemas alusivos em:



Nu

Uma nuvem de luz entretecida
a tua cobertura,
tu toda nua,
puro o nu,
a tua face descaída, 
um rosto de ti, 
de ninguém, 
detalhes escassos 
em rasgos 
de nuvem aquecida,
de ti,
de ninguém,

um rosto vago 
pendido
de alguém te mirando,
talvez tu,
tu, 
a ti própria te olhando,
talvez teu braço 
erguido,

um mamilo de nariz empinado despontando 
e um púbis negro vislumbrado,
denso, emaranhado,
lembrando aberta uma mão
tapando um chão descoberto
e a maçã de Adão
clamando o velho pecado…

Sentença perene 
em folha púdica de proibição
em remissão breve de arte
ad hoc
e ao de leve
ainda que definitiva,

mel e fel
e o diabo
de fruto bravo proibido
se fora do seu tempo de maturação
ou se de uma árvore alheia
ele for colhido,
o diabo…

Um nu
quase encoberto
por um manto de sombras
mas quase descoberto
por rasgos de luz,
o olhar perdido,

apenas um nu
de um corpo maduro 
enaltecido
de uma mulher
em primavera
que nascera puro
como tudo que de amor se fizera!

José Rodrigues Dias, 2014-07-18