quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

SNS, o teu poema perfeito


António Arnaut

Parabéns, 
hoje, 28 de Janeiro de 2016, 
dia de aniversário (80 anos).


SNS, o teu poema perfeito

(Pequena homenagem a António Arnaut,
obreiro do Serviço Nacional de Saúde, 35 anos depois)


Teu o poema perfeito

(em tempo: digo quase perfeito
por no tempo se ter retrocedido,
tu triste, magoado, ofendido,
o poema a sentir-se desfeito…),

de ti, luz de vela, o sonho nascido
a régua e a esquadro,
aberto, bem aberto, o compasso,
todos à ordem,
o horizonte largo,

poema verso a verso burilado
em cada letra soletrada em nova palavra
em chão matizado em lavra
de solidariedade,
cada homem um irmão,
qualquer o seu género e a idade,
braços abraçados,
mão na mão,

eis, mundo inteiro,
o poema,
eis a saúde
feita aqui universal
e do homem um direito,
ei-la,
a saúde!

A saúde,
ei-la
em liberdade!

E, assim, Homem,
teu o poema justo e perfeito
na luz iniciado,
a constituição
livro primeiro sagrado!

De ti, poeta e obreiro de oriente,
o poema perfeito
(pelo tempo feito imperfeito)
no peito da gente,

o teu poema decerto preferido
verso a verso construído,

em cada verso um nome,
o nome de cada homem nascido,

não importando
quem é,
a quem pertence o sobrenome,
de que gente é o homem
que ali está dorido
como outro qualquer nascido,

apenas se indagando
com o coração
e as ferramentas na mão,
auscultando...

Senhor, onde lhe dói,
onde começou, quando, como foi,
onde é a sua dor?

Senhor doutor, mas quanto será?

Será o que for,
senhor,
não importa o que custará,
será o que tiver que ser,
vamos é ver
essa dor
e outra dor precaver...

Senhor,
vamos lá ver
essa dor…


José Rodrigues Dias, 2014-09-15

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Nu


Aragão Humberto
Fotógrafo amador brasileiro premiado internacionalmente,
Pai do Prof. Humberto de Aragão (São Paulo).

[Humberto Aragão (A.B.A.F), Nu. 1952.
Fonte: Catálogo do V Salão FCES.]

Outras fotografias e poemas alusivos em:



Nu

Uma nuvem de luz entretecida
a tua cobertura,
tu toda nua,
puro o nu,
a tua face descaída, 
um rosto de ti, 
de ninguém, 
detalhes escassos 
em rasgos 
de nuvem aquecida,
de ti,
de ninguém,

um rosto vago 
pendido
de alguém te mirando,
talvez tu,
tu, 
a ti própria te olhando,
talvez teu braço 
erguido,

um mamilo de nariz empinado despontando 
e um púbis negro vislumbrado,
denso, emaranhado,
lembrando aberta uma mão
tapando um chão descoberto
e a maçã de Adão
clamando o velho pecado…

Sentença perene 
em folha púdica de proibição
em remissão breve de arte
ad hoc
e ao de leve
ainda que definitiva,

mel e fel
e o diabo
de fruto bravo proibido
se fora do seu tempo de maturação
ou se de uma árvore alheia
ele for colhido,
o diabo…

Um nu
quase encoberto
por um manto de sombras
mas quase descoberto
por rasgos de luz,
o olhar perdido,

apenas um nu
de um corpo maduro 
enaltecido
de uma mulher
em primavera
que nascera puro
como tudo que de amor se fizera!

José Rodrigues Dias, 2014-07-18