quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Critica


 
(A propósito do Dia Mundial do Professor)


Critica


Não, não escrevi no título “Crítica”, o que sempre gosto de fazer, olhos nos olhos, letras certas no sujeito, que assim mo ensinou o Mestre que mais recordo e mais a vida me marcou: o de Filosofia. Ele formava, ensinando a perguntar sempre. Por quê? Ou porquê? Sempre perguntando! Era um Mestre. Então adolescente, nunca lhe disse isto. Seria um atrevimento para um aprendiz. Hoje, já ontem, gostaria muito que isto ele soubesse, onde quer que esteja, talvez recreando-se depois do trabalho justo e perfeito.

Assim esse Mestre me formou e assim me formei. Talvez por isso, curiosamente, optei pela objectividade dos circuitos e dos números. Ou melhor, pela crítica da objectividade do quantitativo. Aí, apareceu o talvez, em mistura do indefinível e do subjectivo! O provável! Aqui, a relatividade das palavras e da sua posição, da sua paragem e da sua continuação. Ontem, a explosão feita da incerteza da posição! Einstein, 1905. Hoje, a inclusão e a exclusão. O preto e o branco. A síntese. Aqui, agora, as leis que temos. Em todo o lado, e já ontem, as leis como as temos. As leis que, aqui incertas, não legislam certo.

Quando, pela primeira vez, olho um aprendiz, aprendiz como eu, que nem sempre há muitos, que quase todos somos logo mestres, digo-lhe: critica! Quando penso que seja a última vez, repito-lhe: critica!

A crítica séria não é pão hoje. Mas amanhã só haverá pão se hoje houver crítica. Sério, critica, então. Teremos amanhã pão!

Sabes, o rei vai nu! Mesmo nu, não te parece?


José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, Chiado Editora, 2011.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Bosão de Higgs, a partícula de deus e do diabo



(A propósito de outro Prémio Nobel de Física, 2013)


Bosão de Higgs, a partícula de deus e do diabo



Tu, que és muito feminina,
quase mulher,
bela, altiva, fugidia,
o homem esbaforido atrás de ti
pelas montanhas alpinas escondida
em jogo de gato e rato
de enamorados,
enguia,

tu, assim muito feminina,
capa de revista,
a senhora do ano…,
partícula de deus
costela
feiticeira do homem,

buraco grande negro enorme
e aquele vácuo,
um vácuo em catástrofe 
do diabo,

um nada muito feminino
escondido
conferindo massa e volume e contornos
e talvez uma certa harmonia
ao coração e a tudo,
fugindo,

mas num dia de stress muito alto
talvez a instabilidade
e o colapso
no tempo e no espaço
do homem inteiro
perseguindo em todos os infinitos
o além,

como louco, loucamente,

por subtis veredas
de luz
e sombras

que ora são de salvação efémera
em noite de exaltação de mestre
ora de total destruição, perpétua,

de deus…,
oh partícula
do diabo!,

paixão do homem, 
maçã de Adão…

2014-09-10

José Rodrigues Dias,  Poemas daquém e dalém-mar, Ed. Forinfor, 2016.
 

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Vê, Tomé!... (Vê, Einstein!)



(A propósito do Prémio Nobel de Física, 2017)


Vê, Tomé!...
(Vê, Einstein!)


Entretecendo mil ideias,
tecendo o espaço e o tempo,
o tolo tudo concebendo...

Bastas ideias muito loucas,
postulados e outras coisas mais
como de gradientes e rotacionais,
orelhas um pouco moucas,

viajando de Newton para umas ondas gravitacionais
como as de uma criança atirando pedras a um lago
deslocando umas plumas leves dum pato sossegado,

mas em outras dimensões
e a coisa com outra dimensão,
buracos negros, buracões,

onde a luz se perto passasse
se dobrasse,
caísse
e adormecesse...,

só vendo, como Tomé
(Como?... A luz ali anoitecia?...),
eis a humana conclusão...

Antenas no espaço e no tempo
orientadas como dedos espetados
e eis as plumas em movimento!

Vê, Tomé!...


José Rodrigues Dias, 2016-02-12