Escrito neste dia, Dia da Criança, em 2015, em livro de 2015... (17)
(Continuando esta sequência de poemas, cada um deles escrito no dia e mês em que se está, um de vários, mas de um ano anterior).
A capa do livro encontra-se no lado esquerdo do blog.
Jrd, 2022-06-01
Naquele tempo, eu criança, a Luz…
Teria
eu doze ou treze anos…
Catorze?...
Talvez não…
Não
havia luz eléctrica,
a
luz era a do Sol, da Lua,
do
azeite na candeia, do petróleo
e
era a daquela pedra
mágica
no
candeeiro
que
com água ardia
como
ardia em furo de batata crua,
nós,
Mãe,
ao
lume em espera,
nós,
Pai,
a
noite longa no olhar…
E
era a luz das estrelas, de Guerra Junqueiro…
Assim
em Talhas, a minha aldeia,
era
assim,
eu,
nós, tudo, o tempo todo escuro…
E
eis que uma pilha de pequena lanterna
e
um pequeno circuito eléctrico construído
de
eu o ter no Porto no colégio aprendido,
e
eis que uma luz, primeira,
no
meu quarto, iluminado,
eu
fascinado, luzia, pioneira,
naquele
tempo, eu, garoto,
a
aldeia com luz de candeia,
eu,
assim, tão límpida a luz…
Algum
tempo depois
(dois,
três anos?...,
talvez,
quem sabe…,
se
já lá vão cinquenta anos!…),
e
eis na aldeia a electrificação
e
o momento da inauguração…
Olhei,
então, e fixei uma lâmpada,
era
ali junto à Igreja,
era
a noitinha,
nem
se via
nem
deixava de se ver,
era
noite e era dia…
E
eis que a minha lâmpada não se acendeu
(as
outras, sim, porque o oh! da gente
logo
aí aconteceu,
quente...),
aquela
lâmpada, que fizera minha,
ali
junto da casa de Deus, não se acendeu
e
nunca eu soube o porquê,
logo
eu, exactamente…
Que
sombra de nuvem negra a teria encoberto,
logo
ali, logo naquele momento, aquela minha luz
que
no meu quarto eu antes a tinha descoberto?…
Repara,
digo-me
agora em templo,
aí tens!…
Creio que vem daí
o fascínio do teu olhar
pela coisa da Luz,
de certos encontros
o caminho,
e de desencontros,
à procura da alteridade
em ti, no outro,
em mim, em liberdade…
2015-06-01
in José Rodrigues Dias, Fiat Lux (no ano da Luz), Ed. Autor, 90 pp, 2015.
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Jrd, 2022-06-01
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