quinta-feira, 30 de abril de 2020

Verdejar de esperança




Verdejar de esperança



Olho o tempo que aprisiona…
De tanta procura da ciência espero uma cura
que do mal o mundo liberte…

O tempo
triste
de morte…

É Primavera,
tempo de livre verdejar
de esperança…


José Rodrigues Dias, 2020-04-30

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Lembrando o Amigo, os Amigos




Lembrando o Amigo, os Amigos


Vai o tempo secando as flores,
ontem umas, hoje outras, outras amanhã,
em nós ficando os seus odores…

Caminhos de boa partilha,
no tempo aos sóis e aos ventos também os homens,
fraterna a partilha, eterna…

Os homens sendo como as flores,
as boas sementes deixadas são levadas por bons ventos,
e assim até na morte vão vivendo…


José Rodrigues Dias, 2020-04-29

terça-feira, 28 de abril de 2020

A Natureza em plenitude





A Natureza em plenitude


Zumbem atarefadas as abelhas,
ameno de calor e luz é o dia, suave a aragem,
num mar de pequeninas flores…

Brancas as flores, branquinhas, pequeninas,
as abelhas pousando e levantando, zumbindo,
e um amor-perfeito arroxeado tão deleitado…

É a Natureza
tranquila, pura, a mão sentindo o pão,
em plenitude…


José Rodrigues Dias, 2020-04-28

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Do vírus, a romã como barca





Do vírus, a romã como barca


É um tempo de gente confinada,
em sua casa, irmanada, como se todos na mesma barca,
de um mal exterior resguardada…

Olha tu, esta é uma flor de tons vermelhos
e será um dia, fechando-se, simbólica, uma romã
e dentro, como se barca, a gente como irmã…


José Rodrigues Dias, 2020-04-27

domingo, 26 de abril de 2020

Vem aí Maio, tempo de luz





Vem aí Maio, tempo de luz


Após os frescos cravos vermelhos de Abril,
em nós discretos depois guardados viçosos no peito,
eis a voz agora das rosas anunciando Maio…

Apesar deste tempo ter as suas dores,
por todo o lado, em cada terra, assim doente a gente,
também este tempo tem as suas flores…

Este eterno tempo,
trevas e luz, luz e trevas, olhares de síntese,
em seu movimento…

São rosas,
vem aí Maio, tempo de luz,
olha bem…


José Rodrigues Dias, 2020-04-26

sábado, 25 de abril de 2020

Dos cravos de Abril





Dos cravos de Abril
  

Em Abril
nasceu do cravo vermelho florido
outro País…

E da semente germinada na gente,
apesar dos cravos que no chão pelo tempo emudecem,
há cravos vermelhos que florescem…

Há sempre um cravo florido
que o presente ergue viçoso na mão
e um botão que será o futuro…


José Rodrigues Dias, 2020-04-25

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Daquela noite àquele dia de Abril





Daquela noite àquele dia de Abril


Redondo deita-se já cansado o Sol.
Dorme, dizem que por vezes dorme com a Lua,
lá para aqueles lados do nosso mar…

De sono certo,
acorda para outro dia com a luz chegando
da madrugada…

Contudo, naquela negra noite
acordara para outro tempo ao som da música
e com a luz clara da liberdade…

De olhar aberto,
já bem desperto, sentindo contente na rua a gente,
olhou os cravos…

Abril,
era
Abril…


José Rodrigues Dias, 2020-04-24

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Um livro de uma flor




Um livro de uma flor

  
Com uma flor apenas
se escreve um livro inteiro
com grandes poemas…

Que mesmo pequenina a flor
há toda uma vida que em botão desabrocha
até que cada pétala se faz pó…

Um livro
sobre a vida, do nascer ao morrer,
da gente…

Assim o autor
fale, olhando-a, e medite, se olhando,
com uma flor…


José Rodrigues Dias, 2020-04-23

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Dia da Terra





Dia da Terra


Canto toda a Terra
pintada daquele azul límpido visto lá do céu
onde a vida medra…

Canto todo o campo
onde no verde do chão colorido de flores
há cheiro a esperança…

Canto toda a mão
lançando sementes na terra e redes no mar, esperando,
para ter paz e pão…

E eu canto todo o sonho
olhando a luz das estrelas, desafiando,
cantarolando em silêncio…


José Rodrigues Dias, 2020-04-22

terça-feira, 21 de abril de 2020

Nas bordas as flores





Nas bordas as flores


Em bordas dos caminhos,
se bem olhares, sentirás em certas flores
poemas belos e profundos…

Tantas mensagens,
simples e elaboradas, das flores puras brotando,
quantos os olhares…

Se olhares,
terás uma visão colorida, tranquila, na terra fraterna,
do mundo…

Anda, caminha,
olha o chão duro e as bordas, nas bordas flores,
faz teu caminho…


José Rodrigues Dias 2020-04-21

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Aguarela




Aguarela


Notícias que tristes…
De infectados, de internados, de mortes, de mortos…
De flores, nenhuma…

Distancio-me, entrando em mim.
Sobre a superfície tranquila da água da charca
faço uma aguarela com uma flor…

A flor,
ainda que nascida bravia,
é linda…

E sobre o fundo da aguarela
o esboço de árvores
em reflexo oscilando, difuso…

Dentro, um silêncio
tranquilo
amaciando o tempo…


José Rodrigues Dias, 2020-04-20

domingo, 19 de abril de 2020

Um doce encanto




Um doce encanto


De meia dúzia de letras cria-se um poema,
de uma flor emergem mil imagens com mil leituras,
de um canto florido, sem conta os poemas…

E das tuas mãos
brota, cada dia, lentamente, sabor a poesia,
um doce encanto…


José Rodrigues Dias, 2020-04-19

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Os pássaros





Os pássaros


Canto os pássaros,

os pássaros famintos
sobre a neve toda branca de Inverno
quando ao lume da cozinha
eu olhava pela janela a rua fria
e o fumo por ali pairava
no nevoeiro denso daqueles dias,
era eu garoto…,

os pássaros atrevidos
dos meus figos lampos de princípios de Verão
quando mesmo se pela manhãzinha cedo eu chego
já os figos do melhor lado estão comidos
e eu tenho que comer os seus restos
ou aguardar pelo dia seguinte,
quem sabe o quê…,

os pássaros dos ninhos de Primavera
por entre as folhas novas de um outro poema
quando, passando, digo a um neto

olha, é a casinha deles,
ali puseram os ovos e nasceram os passarinhos
muito pequeninos de bico aberto
esperando a comida que os pais lhe vão trazer…,

e depois? ,
pergunta ele,
e depois?...,

depois, depois voaram…,

digo eu,
olhando ali tanto céu…,

 e também canto
os pássaros que se vão
quando o tempo (não sei como) lho diz
em outro Outono que já lá vem
e eles assim prontos partem
chegando a um mundo novo
ou talvez velho que se renova
com o seu novo
canto…

Não sou um pássaro,
pelo menos não o sou completamente
mas gosto de voar muito, muito livremente
pelas folhas e ramos e árvores e florestas
de todas as cores do meu tempo
sentindo em cada rebento
e em cada flor
um homem de qualquer cor
a desabrochar novo…

2014-07-22

in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Esperança




Esperança


Limpamos os ramos
dos verões já gastos,
tratamos das dores
de outonos nefastos…

A terra o Inverno a cura,
uma nova Primavera
vem então fresca e pura!

2012-11-07


in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Este tempo




Este tempo


Digo que é o medo que retrai as palavras
que procuro em janela aberta
como luz de Primavera.
Deve ser deste tempo o seu medo de tudo
pois delas eu não faço qualquer uso
em mentira ou ocultação
nem delas abuso
(excepto, talvez, como se uma criança
em jogo de palavras, aí, sim, talvez…).
Então, se as palavras sabem disso
e se me conhecem
e se mesmo assim não me aparecem,
só pode ser, digo eu, do seu medo de tudo
como um gato escaldado pelo tempo
em que qualquer frio entorpece
qualquer seu movimento,
só pode ser...

2014-12-15

in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.

terça-feira, 14 de abril de 2020

Vida



Vida


De seu tempo acabado,
parece ser a morte,
o seu instante chegado…

Tronco e membros ressequidos,
braços caídos abandonados,
peso reduzido
do corpo sem viço,
o seco
apenas pelo osso preso…

O corpo desfolhado,
tantos verdes que antes fora,
tanta tonalidade reflectida,
tão baço e parado agora,
morto que ali está…

Onde o sangue e a seiva,
as correntes de Primavera
em fios sem fim?

Parece a morte,
a morte…

Mas, olha,
pega-lhe na mão,
molha os seus lábios,
vai-os sempre molhando,
tira-lhe os podres e os secos,
corta-lhos
mesmo que pareça desumano…

Não lhe deixes o ser,
não,
não o deixes morrer!

Olha-o sempre,
chama-o,
cada momento!

Vai-o espicaçando,
acredita, sim,
chama-o sempre…

Verás, à vida voltará!

Um dedo, o braço
o gomo, um olhinho,
o ramo em abraço…

2012-06-11


in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 106 pp, 2016.