Canto os pássaros,
os pássaros famintos
sobre a neve toda branca de
Inverno
quando ao lume da cozinha
eu olhava pela janela a rua
fria
e o fumo por ali pairava
no nevoeiro denso daqueles
dias,
era eu garoto…,
os pássaros atrevidos
dos meus figos lampos de
princípios de Verão
quando mesmo se pela
manhãzinha cedo eu chego
já os figos do melhor lado
estão comidos
e eu tenho que comer os seus
restos
ou aguardar pelo dia seguinte,
quem sabe o quê…,
os pássaros dos ninhos de
Primavera
por entre as folhas novas de
um outro poema
quando, passando, digo a um
neto
olha, é a casinha deles,
ali puseram os ovos e nasceram os passarinhos
muito pequeninos de bico aberto
esperando a comida que os pais lhe vão trazer…,
e depois? ,
pergunta ele,
e depois?...,
depois, depois voaram…,
digo eu,
olhando ali tanto céu…,
e também canto
os pássaros que se vão
quando o tempo (não sei como)
lho diz
em outro Outono que já lá vem
e eles assim prontos partem
chegando a um mundo novo
ou talvez velho que se renova
com o seu novo
canto…
Não sou um pássaro,
pelo menos não o sou
completamente
mas gosto de voar muito, muito
livremente
pelas folhas e ramos e árvores
e florestas
de todas as cores do meu tempo
sentindo em cada rebento
e em cada flor
um homem de qualquer cor
a desabrochar novo…
2014-07-22
in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.
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