Luz coada
Coada,
outra a dimensão
da Luz!
Em subtil encantamento,
em silêncio, em presença ausente,
mergulha o pensamento...
2018-08-28
in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.
Jrd, 2020-08-31
(Traçados sobre nós - Traço: José Rodrigues Dias; Blog em remodelação)
Luz coada
Coada,
outra a dimensão
da Luz!
Em subtil encantamento,
em silêncio, em presença ausente,
mergulha o pensamento...
2018-08-28
in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.
Jrd, 2020-08-31
Domingo
Há um azul límpido nos céus
que suave,
suavemente, ilumina o branco
da flor em
novelo de algodão!
No silêncio há
um grito
de gente no mar
balouçando
sedenta de pão
e de Paz!
Da pele,
da cor da pele,
a violência em ondas
se ergue!
E há uma coisa
danada,
chamam-lhe Covid-19,
que vive da gente
e de que a
gente morre!
Domingo,
a Palavra dos
textos sagrados
oscilando!
Há no céu
uma flor no
azul e no verde
de branco!
José Rodrigues Dias, 2020-08-30
Presa a palavra morreria
Quem
orienta as minhas palavras
e
as palavras de um poeta,
que
oriente,
não
sei!
Pego
eu numa sem saber bem de onde emerge,
ou
por que dali assim emerge,
e,
então, deita-se a palavra logo a correr
sem
ceder a um sinal só de rédeas…
Às
vezes parece-me que segue meus passos
de
outros tempos e lados
embora
em forma nova consertados…
Outras
vezes, não sei!
Sinto,
porém,
diria
mesmo que isso eu sei,
que
presa a palavra morreria
e,
se morta, também sei
que
vida não haveria…
Livre
é a palavra!
2013-04-20
in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro três, 3/10 (Janeiro a Junho de 2013), 266 pp, 2020.
Jrd, 2020-08-29
Arado, passado e futuro
Mesmo
que poucos os passos,
sorte
a minha…,
atrás
duma parelha jungida
e
de um arado,
ou
de charrua,
aqueles
seres que então se erguiam
nesse
tempo de fazer a sementeira,
e
as sementes nem sempre nasciam,
que
depois de mil trabalhos floriam,
que
floriam
em
pão
da
massa benzida
que
as mulheres cedo coziam
de
semana a semana, ou mais,
no
forno rojo de lenha
e
que à noite, cansados,
suados,
sujos,
os
animais acomodados,
(que
floriam
naquele
pão), o pão
que
os homens na cozinha comiam
à
luz duma candeia afugentando as sombras
com
umas batatas do pote ao lume
e
uma espinha de bacalhau
ou
uma dentada de toucinho amarelo
em
cima dum carolo de pão,
ou
talvez fosse
um
resto de sardinha,
ou
nada fosse…
Mesmo
que poucos os passos,
dizia
eu, que sorte, então, a minha!...,
atrás
de uma parelha jungida,
e
de um arado,
ou
de charrua,
depressa
aí percebi,
ainda
quase garoto,
que
só direitos eram meus sulcos
quando
perto não olhava
e
o destino certo longe eu fixava…
Sempre
o passado me lembra,
o
longe presente sempre, sempre o repito,
que
sempre a gente se lembre…
2012-09-13
Contracapa, badana e "dedicatória"
do novo livro (Diário Poético, Livro quatro),
em fase final de impressão.
Jrd, 2020-08-27
Livro em fase final de impressão:
o quarto de uma série de dez,
o vigésimo desde 2010 (data do primeiro livro),
179 poemas, 276 pp.
Jrd, 2020-08-26
Pôr-do-sol
Já lá se vai o
Sol.
Deixa neste
chão abafado, sofrendo,
um calor de
suor.
Nem um cão
ladra,
em jeito de
conversa, à Lua crescente
que já se
alevanta.
E tanta fora a
luz
que os olhos
semicerrados, roendo,
ainda aqui
ardem.
A noite
devagarinho os
abre, amaciando,
silente!
José Rodrigues Dias, 2020-08-25
No colo
Sol denso de
Alentejo:
no colo de uma flor vermelha de aloendro
acolhe-se um
insecto!
José Rodrigues Dias, 2020-08-24
Vidas
A Lua de meia passa a cheia naquela
noite,
com amor e mistérios de amantes
fundindo-se
em horizontes sonhados no reflectir
ampliados
de águas calmas e doces de lago enorme
em quase planície,
ou de águas salgadas quase planas
em praia então deserta
com luz reflectida em mar imenso em
balouço doce,
embalando o amor.
A Lua de cheia passa a meia no dia
seguinte.
Na planície a água deixa de ser fresca
e começa a evaporar-se.
No mar as águas em ondular crescente
começam a levantar-se.
A luz reflectida da Lua começa a
esgueirar-se
no sumir do lago e no agitar aumentado
do mar.
O sonho de ontem em Lua cheia começa a esfumar-se
por uma neblina difusa soltando-se do lago
minguando
e do mar em ondular crescente se
agigantando.
De meia passa a nada a Lua na noite
seguinte.
Não há dia, não há lago, todo ele se
evapora,
ficando seco o lugar do lago.
Só há agitado e tenebroso mar sem praia
e sem vislumbrar esperança boa em cabo.
O ser todo se desmorona.
Nada!
Só há noite.
Nem noite quase há por ser de breu a
noite.
Não há luz.
Até o mar a gritar revoltado deixa de
se ouvir
abafado por sumidos gemidos na noite
incontidos.
Buracos negros em terra e céu sugam
toda a réstia de luz.
Nada!
De nada,
de nada a Lua passa a fina curva de luz
de outra Lua.
Como em sonho, há um clarear no
amanhecer
de outro dia.
Há uma espécie de moinha de destroços,
uma espécie de outra neblina,
invertida.
A chuva cai e o lago de novo plano se
forma.
Nos agitados mares, deitam-se de
cansaço as marés.
Os corpos refrescam-se em água caída de
baptismo
e o ser dos corpos purifica-se em
renovada iniciação.
Os barcos encalhados voltam a ondular
sem dor
como em noite de Lua cheia,
sentindo o agitar partilhado do amor!
2010-06-27
in José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, 106 pp, 2011.
Jrd, 2020-08-23
O gérmen da vida
De um ponto interior, o mais recôndito,
na semente ao tempo atenta, o
gérmen da vida
lança-se, e imparável, ao seu
caminho...
Nenhum rochedo, nenhum adamastor,
detém a sua passada, impede o
seu destino,
nada, ainda que com muito suor
e dor...
E eis que cada um de nós
poderá então dar, ou não, uma
pinga de água
quando a cruz for maior...
Post scriptum:
A força de um rebento
sempre me entusiasma a palavra
por forte o sentimento...
Sim, haverá os inultrapassáveis adamastores,
muito caminho por nascer e por
se cumprir,
muitos seres morrendo antes de
darem flores...
2017-05-03
Sem
se poderem libertar
Em
certas tardes, fios de luz
não
cabem nas palavras
por
muito que as moldemos…
Como
em certas noites de luar
sons
que de sonhos tão ansiados
se
quedam trémulos nos dedos…
Como
em certos segredos
nos
olhares com beijos ardendo fechados
e
sem se poderem libertar…
2012-11-13
Enchem-se
as horas
Enchem-se as horas
de
bocas
sem
comer,
as
mãos vazias
caídas
sem
trabalho,
o
trabalho fonte de pão,
o
pão
o
alimento dos homens…
2013-06-28
in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro três, 3/10 (Janeiro a Junho de 2013), Ed. Forinfor, 266 pp, 2020.
Jrd, 2020-08-20
Dois poemas deste último livro:
Ser
assim
Passa
quente o Sol alto de Maio por mim
e
na face me marca com a sua tisnada cor
por
debaixo do suor do trabalho ao calor.
Quem
me manda neste tempo ser assim?
2013-05-04
* * *
Mãe,
cadeia de luz
De
quem a luz um dia se teve
na
lembrança sua luz se reteve
quando
em noite um dia se fez.
Mãe,
essa cadeia de luz,
candeia
primeira,
que
vida um dia se refez!
2013-05-05
* * *
Jrd, 2020-08-19
Notas do Autor
O terceiro
volume, este Livro três, do Diário Poético que o autor decidiu
publicar, por semestres, contemplando o
período de 2012 a 2016, inclusive, num total de dez volumes.
O Livro um,
publicado em 2018, é constituído por um conjunto de 154 poemas e o Livro
dois, recentemente publicado, é composto por 156, um número praticamente
igual ao do Livro um, os poemas apresentados por ordem cronológica.
Este Livro
três, o décimo nono do autor, é constituído por 173 poemas, um número um
pouco superior ao dos dois livros anteriores.
Dos 173 poemas
(digamos que, em média, um poema por dia ao longo do semestre), 54 já antes
haviam sido publicados, repartidos por seis livros temáticos, estando estes
devidamente referenciados através de um índice. Não se pretendeu introduzir
qualquer alteração, salvo algum pequeno pormenor, nos poemas já publicados.
Escritos há uns
sete anos, os poemas ainda não publicados em livro foram agora aqui revistos,
não tendo sido, porém, alterados na sua essência, sofrendo apenas uma ou outra
pequena modificação. Quis o autor mantê-los como nasceram, no seu próprio
contexto. Por outro lado, não foi excluído, tal como nos livros anteriores
desta e de outras séries, qualquer poema encontrado, ficando, assim, o olhar
integral do autor no período respectivo. Contudo, é possível que algum poema,
por não encontrado, tenha sido omitido.
Habituado a
números, dir-se-á que nestes três primeiros volumes deste Diário Poético
(2012–2016) se encontra um conjunto de 483 poemas.
Também aqui, o
contexto deste Livro três é de um tempo difícil, de crise grave,
política e económica, a nível nacional e internacional, disso dando conta
muitos poemas.
Como o anterior,
é também este Livro três publicado num tempo deveras crítico, num
contexto de pandemia avassaladora, por via da Covid-19. É neste contexto
que a dedicatória tem, para o autor, nesta precisa data, um significado muito particular.
Muitos dos
poemas foram sendo publicados no blog de Poesia do autor, Traçados
sobre nós, iniciado em 10 de Novembro de 2011.
Tal como em
todos os outros livros publicados, exceptuando os dois primeiros, de 2010 e de
2011, é do autor todo o trabalho, excepto o acto de impressão. Assim, todas as
falhas são da sua responsabilidade. Se algum mérito houver, é fruto da vida, a
vida nos caminhos pelo autor percorridos. Juiz, o leitor!
Este Livro
três é o quinto publicado em 2020. Gostaria o autor de publicar bastantes
mais, fruto da sua escrita diarística, estando já globalmente organizados.
Seria, neste ano
de 2020, como que uma simbólica comemoração dos dez anos de actividade
literária publicada em livro, o primeiro em 2010, depois de uma vida dedicada a
fórmulas e a números, a computadores (hardware e software), ao
ensino e à investigação, com traços nestas áreas reconhecidos nacional e
internacionalmente.
José Rodrigues Dias, 2020-07-09
* * *
Jrd, 2020-08-18