segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Luz coada



 

Luz coada


Coada,
outra a dimensão 
da Luz!

Em subtil encantamento,
em silêncio, em presença ausente,
mergulha o pensamento...

2018-08-28


in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.


Jrd, 2020-08-31


domingo, 30 de agosto de 2020

Domingo

 


Domingo

 

 

Há um azul límpido nos céus

que suave, suavemente, ilumina o branco

da flor em novelo de algodão!

 

No silêncio há um grito

de gente no mar balouçando

sedenta de pão e de Paz!

 

Da pele,

da cor da pele, a violência em ondas

se ergue!

 

E há uma coisa danada,

chamam-lhe Covid-19, que vive da gente

e de que a gente morre!

  

Domingo,

a Palavra dos textos sagrados

oscilando!

 

Há no céu

uma flor no azul e no verde

de branco!


 

José Rodrigues Dias, 2020-08-30


sábado, 29 de agosto de 2020

Presa a palavra morreria




Presa a palavra morreria

 


Quem orienta as minhas palavras

e as palavras de um poeta,

que oriente,

não sei!

Pego eu numa sem saber bem de onde emerge,

ou por que dali assim emerge,

e, então, deita-se a palavra logo a correr

sem ceder a um sinal só de rédeas…

Às vezes parece-me que segue meus passos

de outros tempos e lados

embora em forma nova consertados…

Outras vezes, não sei!

Sinto, porém,

diria mesmo que isso eu sei,

que presa a palavra morreria

e, se morta, também sei

que vida não haveria…

 

Livre é a palavra!

 

2013-04-20


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro três, 3/10 (Janeiro a Junho de 2013), 266 pp, 2020.


Jrd, 2020-08-29


sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Arado, passado e futuro

 



Arado, passado e futuro

 

 

Mesmo que poucos os passos,

sorte a minha…,

atrás duma parelha jungida

 

e de um arado,

ou de charrua,

 

aqueles seres que então se erguiam

nesse tempo de fazer a sementeira,

e as sementes nem sempre nasciam,

que depois de mil trabalhos floriam,

 

que floriam

em pão

da massa benzida

que as mulheres cedo coziam

de semana a semana, ou mais,

no forno rojo de lenha

  

e que à noite, cansados,

suados, sujos,

os animais acomodados,

 

(que floriam

naquele pão), o pão

 

que os homens na cozinha comiam

à luz duma candeia afugentando as sombras

com umas batatas do pote ao lume

 

e uma espinha de bacalhau

ou uma dentada de toucinho amarelo

em cima dum carolo de pão,

 

ou talvez fosse

um resto de sardinha,

ou nada fosse…

 

Mesmo que poucos os passos,

dizia eu, que sorte, então, a minha!...,

atrás de uma parelha jungida,

 

e de um arado,

ou de charrua,

 

depressa aí percebi,

ainda quase garoto,

 

que só direitos eram meus sulcos

quando perto não olhava

e o destino certo longe eu fixava…

 

Sempre o passado me lembra,

o longe presente sempre, sempre o repito,

que sempre a gente se lembre…

 

2012-09-13


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


* * * 

Jrd, 2020-08-28

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Contracapa, badana e "dedicatória" do novo livro





Contracapa, badana e "dedicatória" 

do novo livro (Diário Poético, Livro quatro),

em fase final de impressão.


Jrd, 2020-08-27


quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Diário poético (2012 - 2016), Livro quatro (capa e badana)

 



Livro em fase final de impressão:


o quarto de uma série de dez, 

o vigésimo desde 2010 (data do primeiro livro),

179 poemas, 276 pp.


Jrd, 2020-08-26


terça-feira, 25 de agosto de 2020

Pôr-do-sol

 


Pôr-do-sol

 

 

Já lá se vai o Sol.

Deixa neste chão abafado, sofrendo,

um calor de suor.

 

Nem um cão ladra,

em jeito de conversa, à Lua crescente

que já se alevanta.

 

E tanta fora a luz

que os olhos semicerrados, roendo,

ainda aqui ardem.

 

A noite

devagarinho os abre, amaciando,

silente!

 


José Rodrigues Dias, 2020-08-25


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

No colo

 


No colo

 

  

Sol denso de Alentejo:

no  colo de uma flor vermelha de aloendro

acolhe-se um insecto!

 


José Rodrigues Dias, 2020-08-24


domingo, 23 de agosto de 2020

Vidas


 


Vidas

 

 

A Lua de meia passa a cheia naquela noite,

com amor e mistérios de amantes fundindo-se

em horizontes sonhados no reflectir ampliados

de águas calmas e doces de lago enorme

em quase planície,

ou de águas salgadas quase planas

em praia então deserta

com luz reflectida em mar imenso em balouço doce,

embalando o amor.

 

A Lua de cheia passa a meia no dia seguinte.

Na planície a água deixa de ser fresca

e começa a evaporar-se.

No mar as águas em ondular crescente

começam a levantar-se.

A luz reflectida da Lua começa a esgueirar-se

no sumir do lago e no agitar aumentado do mar.

 

O sonho de ontem em Lua cheia começa a esfumar-se

por uma neblina difusa soltando-se do lago minguando

e do mar em ondular crescente se agigantando.

 

De meia passa a nada a Lua na noite seguinte.

Não há dia, não há lago, todo ele se evapora,

ficando seco o lugar do lago.

Só há agitado e tenebroso mar sem praia

e sem vislumbrar esperança boa em cabo.

O ser todo se desmorona.

Nada!

Só há noite.

Nem noite quase há por ser de breu a noite.

Não há luz.

Até o mar a gritar revoltado deixa de se ouvir

abafado por sumidos gemidos na noite incontidos.

Buracos negros em terra e céu sugam

toda a réstia de luz.

Nada!

 

De nada,

de nada a Lua passa a fina curva de luz de outra Lua.

Como em sonho, há um clarear no amanhecer

de outro dia.

 

Há uma espécie de moinha de destroços,

uma espécie de outra neblina, invertida.

A chuva cai e o lago de novo plano se forma.

Nos agitados mares, deitam-se de cansaço as marés.

Os corpos refrescam-se em água caída de baptismo

e o ser dos corpos purifica-se em renovada iniciação.

Os barcos encalhados voltam a ondular sem dor

como em noite de Lua cheia,

sentindo o agitar partilhado do amor!

 

2010-06-27


in José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, 106 pp, 2011.


Jrd, 2020-08-23


sábado, 22 de agosto de 2020

O gérmen da vida



 


O gérmen da vida



 

De um ponto interior, o mais recôndito,

na semente ao tempo atenta, o gérmen da vida

lança-se, e imparável, ao seu caminho...


Nenhum rochedo, nenhum adamastor,

detém a sua passada, impede o seu destino,

nada, ainda que com muito suor e dor...


E eis que cada um de nós

poderá então dar, ou não, uma pinga de água

quando a cruz for maior...

 

 

Post scriptum:


A força de um rebento

sempre me entusiasma a palavra

por forte o sentimento...


Sim, haverá os inultrapassáveis adamastores,

muito caminho por nascer e por se cumprir,

muitos seres morrendo antes de darem flores...


2017-05-03


in  José Rodrigues Dias, Poemas em tercetos simétricos, diarísticos, Livro II (Abril a Junho, 2017), 144 pp, 2018.


* * * 

Jrd, 2020-08-22

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Sem se poderem libertar

 



Sem se poderem libertar

 

  

Em certas tardes, fios de luz

não cabem nas palavras

por muito que as moldemos…

 

Como em certas noites de luar

sons que de sonhos tão ansiados

se quedam trémulos nos dedos…

 

Como em certos segredos

nos olhares com beijos ardendo fechados

e sem se poderem libertar…

 

2012-11-13


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


* * * 

Jrd, 2020-08-21

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Enchem-se as horas

 


Enchem-se as horas

 

 

Enchem-se as horas

de bocas

sem comer,

 

as mãos vazias

caídas

sem trabalho,

 

o trabalho fonte de pão,

o pão

o alimento dos homens…

 

2013-06-28

 

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro três, 3/10 (Janeiro a Junho de 2013), Ed. Forinfor, 266 pp, 2020.


Jrd, 2020-08-20


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Dois poemas deste último livro

 



Dois poemas deste último livro:


Ser assim

 

  

Passa quente o Sol alto de Maio por mim

e na face me marca com a sua tisnada cor

por debaixo do suor do trabalho ao calor.

Quem me manda neste tempo ser assim? 

 

2013-05-04

 

* * * 


Mãe, cadeia de luz

 

  

De quem a luz um dia se teve

na lembrança sua luz se reteve

quando em noite um dia se fez.

 

Mãe, essa cadeia de luz,

candeia primeira,

que vida um dia se refez! 

 

2013-05-05

 

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Jrd, 2020-08-19


terça-feira, 18 de agosto de 2020

O "Livro três" do Diário Poético (2012 - 2016)

 


Notas do Autor

 

O terceiro volume, este Livro três, do Diário Poético que o autor decidiu publicar, por semestres,  contemplando o período de 2012 a 2016, inclusive, num total de dez volumes.

 

O Livro um, publicado em 2018, é constituído por um conjunto de 154 poemas e o Livro dois, recentemente publicado, é composto por 156, um número praticamente igual ao do Livro um, os poemas apresentados por ordem cronológica.

 

Este Livro três, o décimo nono do autor, é constituído por 173 poemas, um número um pouco superior ao dos dois livros anteriores.

 

Dos 173 poemas (digamos que, em média, um poema por dia ao longo do semestre), 54 já antes haviam sido publicados, repartidos por seis livros temáticos, estando estes devidamente referenciados através de um índice. Não se pretendeu introduzir qualquer alteração, salvo algum pequeno pormenor, nos poemas já publicados.

 

 

Escritos há uns sete anos, os poemas ainda não publicados em livro foram agora aqui revistos, não tendo sido, porém, alterados na sua essência, sofrendo apenas uma ou outra pequena modificação. Quis o autor mantê-los como nasceram, no seu próprio contexto. Por outro lado, não foi excluído, tal como nos livros anteriores desta e de outras séries, qualquer poema encontrado, ficando, assim, o olhar integral do autor no período respectivo. Contudo, é possível que algum poema, por não encontrado, tenha sido omitido.

 

Habituado a números, dir-se-á que nestes três primeiros volumes deste Diário Poético (2012–2016) se encontra um conjunto de 483 poemas.

 

Também aqui, o contexto deste Livro três é de um tempo difícil, de crise grave, política e económica, a nível nacional e internacional, disso dando conta muitos poemas.

 

Como o anterior, é também este Livro três publicado num tempo deveras crítico, num contexto de pandemia avassaladora, por via da Covid-19. É neste contexto que a dedicatória tem, para o autor, nesta precisa data, um significado muito particular.

 

 

Muitos dos poemas foram sendo publicados no blog de Poesia do autor, Traçados sobre nós, iniciado em 10 de Novembro de 2011.

 

Tal como em todos os outros livros publicados, exceptuando os dois primeiros, de 2010 e de 2011, é do autor todo o trabalho, excepto o acto de impressão. Assim, todas as falhas são da sua responsabilidade. Se algum mérito houver, é fruto da vida, a vida nos caminhos pelo autor percorridos. Juiz, o leitor!

 

Este Livro três é o quinto publicado em 2020. Gostaria o autor de publicar bastantes mais, fruto da sua escrita diarística, estando já globalmente organizados.

 

Seria, neste ano de 2020, como que uma simbólica comemoração dos dez anos de actividade literária publicada em livro, o primeiro em 2010, depois de uma vida dedicada a fórmulas e a números, a computadores (hardware e software), ao ensino e à investigação, com traços nestas áreas reconhecidos nacional e internacionalmente.

 

José Rodrigues Dias, 2020-07-09


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Jrd, 2020-08-18