quarta-feira, 5 de agosto de 2020

Pai




Pai 


Quando me perguntava, Pai,
o que dizia a canção que no rádio ouvia,
eu pensava,
naquela nossa terra e tempo,
que me perguntava
pelas palavras da tradução
que eu numa terra longe aprendia
com os calos de cada sua mão,

mas ontem,
só ontem, Pai,
naquele silêncio de sala cheia, liberto,
ouvindo cada canção
eu pensei, lá longe, que talvez não,
que talvez o senhor se referisse
ao que estava dentro, ao poema,
àquela poesia que se desprendia
sem palavras,

porque a poesia é de todos,
é livre, concreta e difusa,
e mesmo sem palavras flui,

e flui livre
como lágrimas inesperadas,
meu Pai!...

2013-10-26


in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.


* * *   

José Rodrigues Dias, 2020-08-05


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