segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Invernias

 



Invernias


Afastaram-se os passos

e foram chegando os silêncios…

Os ventos desprendiam mais folhas

e as chuvas iam levando mais suspiros…

Os dias foram passando a mais noite…


Depois, em outros dias,

nos ramos mais secos das invernias

irão rebentar nas madrugadas novas alegrias…


2011-11-30


in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.


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Jrd, 2020-11-30


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domingo, 29 de novembro de 2020

E por ti

 



E por ti


É por ti

ainda o sonho

e por ti vou…


E por ti

me faço ao mar,

não há ondas nem marés

nem cinzas nem bombas

que me façam parar,

nem moído dos pés

nem dorido

como estou…


É por ti

que vou…


2013-11-29


in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), 216 pp, 2019.


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Jrd, 2020-11-29


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sábado, 28 de novembro de 2020

Como, se aprendiz?

 



Como, se aprendiz?

(State of the art)


Falo do estado da arte como, 

se aprendiz?

Por isso me calo

e ouço o que cada mestre me diz…


De um, 

quase me parece que de outro tempo,

sumidas quase mas tão nítidas as suas palavras,

como se em tábuas antigas a fogo escritas, 

escuto:

caminha, devagar, deixa as sombras e parte,

segue a luz por entre poeiras e nuvens,

há sempre sinais ainda que ténues de luz,

e em cintilações sente aflorações 

da arte 

que faz de ti parte…


2012-11-28


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-28


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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Cante

 


Cante

(hoje, património da humanidade)



Mesmo triste

que o cante te liberte

abraçando-te ao outro

que contigo cante

o que lá vem

em madrugada,


o que de longe vem

ecoando em passos badalados

em horas de tempo lento

de noite fria

ou do dia

quando o sol alto lá vai

escorrendo suor

no céu baixo

apertando cada palavra

que se vai libertando,


libertando, 

enfim,

em cante,


e os pássaros

amantes da liberdade

escondidos numa azinheira 

perdida aparecida

no campo campo campo largo

contigo logo cantarão

de braço dado

em fraternidade!


2014-11-27


in José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar, 178 pp, 2016.


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Jrd, 2020-11-27


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quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Cinzas nos caminhos, gritos

 


Cinzas nos caminhos, gritos


Por respeito, recolho-me,

este é tempo de me recolher…


Cinzas nos caminhos, gritos…

A luta, dura, perdura, enluta…


Fogo, chuva, tudo a acontecer,

Da dor no peito, recolho-me…


2014-11-26


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro seis, 6/10 (Julho a Dezembro de 2014), 188 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-26


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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

O tempo

 


O tempo


Mofos, musgos, medos, fissuras,

enredos que o próprio tempo

vai semeando no caminho

ao passar por nós

num pulo

ou de mansinho…


Pinturas 

de sítios onde moramos,

onde somos,

onde a parte se vai refazendo

e o todo desfazendo

devagarinho…


2013-11-25


in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2020-11-25


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terça-feira, 24 de novembro de 2020

Évora, terra minha feita

 



Évora, terra minha feita


E Évora vai acontecendo em mim,

encontro por acaso, o caminho por escolha,

deambulando por aqui até ao fim...


Évora de tanto templo,

de sóis, de frios e ventos, do mundo inteiro,

a andar nos contemplo...


Évora com os tempos de sementeiras,

aquecida a terra minha feita em suor regada,

de colheitas, das palavras derradeiras...


2016-11-24


in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2020-11-24


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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Sim, o poema

 


Sim, o poema


Entre as suas armas de metal duro

e as tuas palavras de luz macia,

entre o silvo das suas balas puro

e dos teus versos a harmonia,

sim, mil vezes sim,

e sim 

ainda que só uma vez seja,


sim, o teu poema

que o corpo não perfura

e na alma perdura…


2013-11-23


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-23


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domingo, 22 de novembro de 2020

Um pássaro me trouxe

 


Um pássaro me trouxe


Um pássaro me trouxe, sou semente,

nesta fraga ele pousou e me deixou,

guardei-me eu bem, aqui me enrolei...


Na hora certa do tempo,

eu no chão, olhei nos céus

o momento de ser gente…


Morrendo então como semente,

eu no chão, dos céus a bênção,

abrigada na fraga desabrochei...


2015-11-22


in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2020-11-22


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sábado, 21 de novembro de 2020

Da origem das palavras

 



Da origem das palavras


Agora que as conheço melhor,

que com elas privo mais

no banco do tempo,

pergunto-me de que coisa são feitas as palavras

e não sei,

serão até de muitas coisas em número sem fim

como num conjunto denso,

mas de letras creio que só aparentemente

tal como as árvores são feitas de folhas

só superficialmente,

porque as árvores existem para além das folhas

e vivem mesmo nuas em tempo de Inverno

como as palavras para além das letras

num espaço sem luz antes do sono

ou durante um sonho…


De que coisa,

ou de que coisas,

serão, então, feitas as palavras,

cada palavra,

a palavra?


Talvez sejam muitas palavras

feitas de caminhos

já feitos e dos ainda por fazer…


Sim, claro,

são dos caminhos trilhados e sonhados

as minhas…


2013-11-21

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-21


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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

 


Mestre


Aprendi de pequenino a sentir no Mestre o saber, 

Com profundo respeito, sem disso me aperceber,

Sem por ele me ter sido de facto assim ensinado,

Que ensinar tal seria, então, acto despropositado!


Aprendi no andar do quotidiano, no meu crescer, 

De criança a menino e de menino a homem novo,

Assim, no desabrochar a avançar, no amadurecer,

Como a contar e a ler, para gente ser de um povo!


Hoje, sábio do sagrado, senhor do profundo saber,

O Mestre é olhado em cada quotidiano acontecer

Sem quase um sinal aflorado de mínimo respeito, 

Olhado até numa mescla de desdém e de despeito!                         

2010-11-20


in Jose Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, 106 pp, 2011


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Jrd, 2020-11-20


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quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Paris

 


Paris


Era a cidade do rio

e do Quartier Latin

e dos bookins

e ali o poiso dos artistas

na margem

do rio lento a correr

e de um tempo sombrio…


Era para mim passagem

para outra margem

em tempo de crescer,

de fazer novas pontes,

vendo de um lado sombras

e do outro o chamamento de luzes

na procura de fórmulas

em palavras

novas

ainda por escrever…


2013-11-19


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-19


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quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Caldo verde

 



Caldo verde


Sementeira feita, a colheita:

límpidas, gotículas de orvalho no verde,

eis os certificados de pureza...


O sabor

começa no semear,

no olhar...


Depois, da cesta bem fresca,

uma tigela bem cheia, quentinha,

e nela um sabor de partilha...


Entretanto, lá fora,

eis que chove,

chove neste agora...


2016-11-18


in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2020-11-18


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terça-feira, 17 de novembro de 2020

Ponte

 


Ponte


Sou ponte entre dois pontos

pilares,

passado e futuro,

rolando 

oscilante sobre eles

em contracções e dilatações

como outras pontes

também funções do tempo

ora macio ora duro…


Sei que poderei cair

se o futuro oscilar,

sei que cairei

se o futuro se afastar,

cairei

se um vendaval

para longe o levar…


2013-11-17

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-17


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segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Olha, sorrio

 



Olha, sorrio


Olha, sorrio, mulher,

que nascido

do mar recôndito da vida

já corre em fiozinho outro rio

que o nosso vai engrossar

e continuar

quando já fino fio

o nosso rio

a correr para outro mar

do tempo estiver

a secar...


Olha, mulher,

o sorriso pelo tempo todo

que se puder!...


2016-11-16

in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Segunda viagem (Trilogia), 228 pp, 2020.


Jrd, 2020-11-16


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domingo, 15 de novembro de 2020

Mansamente

 

(Entretanto, a Vida resiste,
mesmo fora de tempo!)


Mansamente


Deixa as lágrimas correr

porque sempre um homem chora

quando alguém que mora na nossa rua

se vai embora para aquela funda terra,

deixando-nos tudo

quanto pode ainda deixar,

um sinal último, um olhar já de longe,

um balbuciar vago dizendo tudo,

uma aliança feita,

levando apenas na mão

aquele quase nada

só para aquele primeiro dia,

partindo esse alguém do nosso bairro

e da nossa rua

também sem palavras,

assim quedo, assim mudo…


2013-11-15


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-15


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sábado, 14 de novembro de 2020

Em silêncio, não!

 


Em silêncio, não!



Disse muitos não,

que outros seriam os caminhos…


Em ruas contigo fui gritando 

mas só 

e calado 

fui ficando 

em bermas nuas

agarrado à liberdade que escolhi…


Ficava mas depois partia,

sempre partia…


Em silêncio procurava a luz e aprendia,

sempre aprendia…


Hoje converso mais com a terra

e com as plantas

e com os novos rebentos 

e com as flores

matizadas,


e nessas conversas

todos nos entendemos,


e converso com as palavras

em silêncio

e com o arado 

sulco

não!


2012-11-14


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-14


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sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Santoya

 


Santoya


O que se esconde

no fundo desse mar

no teu olhar

onde a luz do meu

se perde devagar

e à pergunta

não responde?


E os versos longos

no teu cabelo escritos

quem os reescreveu

assim escorreitos?

Foi depois de uma noite

em que o fruto cedo amadureceu

e o sonho tombou ferido

dos teus lábios?


Impotente, quedo-me

nas interrogações dos homens

na decifração dos mistérios

que estão para lá

do que se vê,

como num livro

sobre a Lua

doce

no seu recôndito

mais feminino

decerto muito belo

escrito por um poeta ao luar

sem nunca se poder folhear

nem sequer abrir,

apenas vagamente intuir

por algum reverso

de um ou outro verso…


2013-11-13


in José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar, 178 pp, 2016.


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Jrd, 2020-11-13


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quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O céu é largo

 


O céu é largo


O céu é largo

o Sol claro

o dia meu

os arados, eu…


A cidade lá ao fundo

o mundo louco longe


na terra, o olhar meu

eu e meus arados, eu…


2013-11-12


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

De querer

 



De querer



A força que pode ser

vai um dia acontecer,


e o homem um dia caído,

o rosto não vencido,

há-de em outro se erguer!


2012-11-11

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-11


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terça-feira, 10 de novembro de 2020

 



(Escrito neste dia, há 15 anos, sobre o mesmo dia 10 de Novembro, há 45 anos. A minha primeira aula, de Matemática, que foi também a primeira aula da Universidade de Évora, então com a designação de Instituto Universitário de Évora. Coisas que perduram, entranhadas...).


* * * 


Começo



Ontem. 10 de Novembro de 1975. 

Primeira aula do Instituto Universitário de Évora. 

Espírito Santo.

Matemática I. 3 assistentes. 

Trevas e Luz.

Mangas arregaçadas. 

Força, catedráticos-assistentes!

Cursos delineados, programas feitos, 

Aulas dadas; outro trabalho. 

Trabalho infantil.

Caboucos abertos, paredes levantadas, 

Templos construídos. Em construção. 

Caminho trilhado caminhando. 

Aprendendo e ensinando. Investigando. 

Doutoramentos de vez em quando. Cá e lá. 

Mais lá do que cá.

Olhos cansados de tanto levantar, 

De tanto andar.

Terá valido a pena?


Mais alunos, docentes e funcionários.

Cursos e mais cursos.

Edifícios e mais edifícios.

Outros e outros mais.

Tanto e tão pouco!

Princípios, Valores, Homens e Mulheres! 

Provas, concursos e júris. 

Transparência, igualdade e isenção. Talvez. Talvez...

Relatividade, Einstein. 100 anos. Ele sabe.

O politicamente correcto e o mexilhão.

 A fogueira. Galileu Galilei.

A inveja, o punhal e o medo de existir. 

Gil, filósofo.

Aperto de mão. O sinal do toque.

Paz, Tolstoi. Paris.

Alentejo. Beleza, lonjura e Poesia. 

Terra, Terra-Mãe, mãe de Vida. 

Levantado do chão. Sem Pão. Carne e ossos. 

Ossos, não!


A Luz nas letras. Guerra Junqueiro.

A Sabedoria na Palavra encontrada. O “paper”. 

Pátria. Pessoa e Camões. Contradições.

O papel do “paper”. Que papel o do giz?

Mestre Pitágoras. A Música e o triângulo: Números em harmonia.

Anastácio da Cunha; desterrado. 

Cátedra de Geometria.

Esperança solidária, fraterna. Tu e eu.

O Sonho, numa flor de Abril, 

Nos olhos de uma criança.

Futuro de Sonho. 

Livre como o vento, 

Desfraldando a Palavra.

Palavra de Homem.

Palavra de Honra!


Hoje, 10 de Novembro de 2005. 

30 anos. 

Universidade de Évora.



in José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, 82 pp, 2010.


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Jrd, 2020-11-10


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segunda-feira, 9 de novembro de 2020

Semeando pontes

 




Semeando pontes


Semeando pontes

nascem fios 

de luz

que são fontes

de límpidos rios…


Ligando as margens,

a água una corre 

livre

e solidária…


2014-11-09


in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2020-11-09


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domingo, 8 de novembro de 2020

Dissolve-se o sorriso

 




Dissolve-se o sorriso


Dissolve-se o sorriso

na chuva,

é o rosto

que se faz do tempo,


como o pensamento

que com a luz se muda,

a luz que muda o gosto

de todo o momento…


2014-11-08


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro seis, 6/10 (Julho a Dezembro de 2014), 188 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-08


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sábado, 7 de novembro de 2020

Esperança

 



Esperança



Limpamos os ramos

dos verões já gastos,

tratamos das dores

de outonos nefastos…


A terra o Inverno a cura,

uma nova Primavera

vem então fresca e pura!


2012-11-07


in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.


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Jrd, 2020-11-07


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quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Poesia?

 



Poesia?



Releio a Vida 

e comecei a soletrar Poesia.

As palavras que me saem alinhavadas, 

não que eu as quisesse assim, 

são esboços toscos 

das páginas que releio nos dias, 

e dos capítulos que da razão projecto 

em afloramentos de palavras-chave 

do que pode ser, 

ou do que há-de ser, 

sem deuses nem asas, 

plúmbeos os céus, 

ou com deuses sem alma nem luz, 

sombras quase apenas.


Falando eu tanto de luz, 

como a encontrar 

nas palavras que procuro 

pelos caminhos

e que aprendo da vida 

que releio 

e que trémulo escrevo 

se tantas as sombras 

que leio?


Poderá haver nisto Poesia?


2012-11-05


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-05


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quarta-feira, 4 de novembro de 2020

De amanhã

 



De amanhã

 

 

Lá do fundo, quase longe,

na mesa que é a minha e dos meus papéis,

e sobretudo a do meu pensamento solto,

olho o que no café se movimenta:

pessoas e gestos,

passos demorados de gastos,

outros tempos de ouvidos lamentos,

olhares cruzados e desviados,

cumplicidades,

vazios,

coisas da bola

e notícias de tormentos…

 

Hoje penso,

olhando,

no que por sinais

nos caminhos se desenha

em encontros e desencontros

de acasos ou não

em ruas e praças

com gente perdida em gritos,

gritos de ódio alguns, quem diria…,

ou em sorrisos tristes

de amanhã…

 

2012-11-04


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-04

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Esperando a partida

 



Esperando a partida



És um velho barco de vela

içada bela 

no areal

esperando a partida

(o ok final)

para de novo te pores a navegar

depois de mãos e braços lavados,

bebido, comido, teus rasgos remendados,

recuperados os destemperos do sono

e as noites frias sem amar,

ali sem o amor…,


e navegar de novo, firme na mão o leme,

no silêncio das velhas estrelas ainda acordadas

quando o dia se faz à noite e se espreme,


ou nesse suor que escorre salgado

do Sol que a gente teme

ainda que no chapéu  largo coado…


És barco, talvez avião a jacto no terminal

pronto para voar

e daqui me levar

para outro porto sem qualquer ponto final…


Eu sou o ser concreto que espera a luz de outro dia

(eu sei que a Luz é una mas é em arco-íris),

sou como se fosse um outro tipo de barco

ou talvez um outro tipo de jacto,


o mundo o de outro Sol

ou de outra estrela,

para uma nova partida,


pêndulo contínuo de procura de pão

com o velho atrito eterno da mão,

perpétuo o caminho em movimento,


primeiro, restrito de o ser o conhecimento

e, depois, harmonia de rio que se amplia 

quando o rio se faz estuário de sabedoria…


Serei (terei já sido?...) eu como tu,

meu velho barco no areal

temperado pelos ácidos do tempo,


ou como tu, meu novo jacto,

outra a Luz, outro o Sol,

largando uma efémera carga,

 

a carga supérflua de certos incertos números,

excluindo esses de ouro em fórmulas mágicas

com uma simplicidade que sempre me brada

que em certos cantos por aí tanto me agrada,


para me lançar de novo num mar

ou ao ar, tanto mar que há e ar!...

(a terra pode ela sempre esperar),


em busca de dispersas e velhas letras

para o poema de uma canção nova

de velhos números e de novas letras,

o poema erigido como templo novo,


porque o ser soma limite integral, inteiro,

é um ser feito de tudo, de todas as parcelas,

é o ser de todas as partes dispersas feito,


de sabiamente unidas o uno ser refeito

e ser feito

um ser quase que divinamente perfeito…


2014-11-03


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012-2016), Livro seis, 6/10 (Julho a Dezembro de 2014), 188 pp, 2020.


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Jrd, 2020-11-03


segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Defuntos-mortos

 


Defuntos-mortos


Todos um dia defuntos são neste dia dos defuntos.

Há defuntos que, mortos, nunca mais vivos são;

Há outros que, mortos, em vivos hoje vivos estão;

E há outros que, defuntos, nunca mortos ficarão!


Da vida de uns, quantos…, nada, nada restou 

Que, negra, a morte negra tudo em pó queimou;

Outros, muitos, bem vivos, em vivos hoje estão;

Bem poucos, os outros, que a vida não deixou, 

Nunca, fraca, a impotente morte daqui os levou!


in José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, 106 pp, 2011.


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Jrd, 2020-11-02


domingo, 1 de novembro de 2020

Dia da Universidade de Évora

 



Lembrando...


Hoje, 1 de Novembro, Dia da Universidade de Évora,

cuja primeira aula (de Matemática), com outros dois colegas, tive, então, aquele raro privilégio de ter dado (em 10 de Novembro de 1975)...


A foto de há três anos, neste dia, em traje académico.


Jrd, 2020-11-01