terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Da passagem de ano e do Novo Ano




Da passagem de ano e do Novo Ano

(Feliz Ano Novo!) 


Símbolo purificador,
o fogo das guerras em Paz
seja o transformador!

E o calor humano
aconchegue, contínuo e suave,
todo o Novo Ano!


José Rodrigues Dias, 2019-12-31

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Do tempo de Natal



Feliz Natal para todos!


Do tempo de Natal

  
Desculpa, diz aos outros por entre a gente
um carrinho de compras cheio, atropelando indo lento,
a caminho do Natal, rosto quase sorridente…


José Rodrigues Dias, 2019-12-23

domingo, 22 de dezembro de 2019

Presépio




Presépio


A diversidade,
do Ser, em Paz, no Presépio,
feita unidade!


José Rodrigues Dias, 2019-12-22

sábado, 21 de dezembro de 2019

Advento, tempo de Solstício da Palavra




Advento, tempo de Solstício da Palavra


A ventania que lá fora assobia ao seu jeito
despe as árvores das últimas folhas outoniças
e a chuva forte lava os riachos no seu leito…

Um tempo
de mudança, fora e dentro, dentro em silêncio,
de Advento…

De mudança,
de Solstício da Palavra, renascendo a folha caída,
de esperança…


José Rodrigues Dias, 2019-12-19

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

De Évora (com votos de um excelente Natal)




De Évora


A ti ofereço a imagem que em ti mais perdura 
e mais pura
Recordas do cheiro deste saber emanado destas pedras
Desta cidade que burilamos e polimos e que amamos
No quotidiano que vivemos, caídos e levantados,
Pelos ermos da vida em que erramos e aprendemos…
Pelo mundo todo em romã irmanados
Que todos em cadeia percorremos,
Onde quase no sofrer nos perdemos
E sempre na acácia nos encontramos,
Com tantas negras agruras
E com brancas doçuras…

(2010-12-02)


in José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, Chiado Editora, 106 pp, 2011.


Jrd, 2019-12-20

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

O vento como potro bravo atiçado




O vento como potro bravo atiçado


Nenhuma mão,
nem aberta nem fechada nem a outra dada,
segura o vento…

Traz torrentes,
nenhuma mão segura as correntes, barrentas,
traz escuridão…

Como cavalo solto
voando livre pelos descampados, açoitado,
só pára se cansado…

Não há mão
que prenda o vento como potro bravo atiçado
em sua mão…


José Rodrigues Dias, 2019-12-19

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Senhoras do Ó


Senhora do Ó - Catedral, Évora
(Imagem da net)


Senhoras do Ó


O Sol da tarde enche todo o céu
mas dentro é outra a Luz.
Lou Reed deixa vazio na cidade.
O órgão enche todo o silêncio.
A Senhora tem o ventre cheio
e a mão do coração toda aberta sobre ele,
maiores parecendo os seus finos dedos.

Quase a seus pés, 
na nave central, um pouco a oriente,
a senhora, sentada, põe a mesma mão
sobre o seu ventre já em ó grande
e o olha
como a um início de sorriso
e o acaricia
ora em movimentos lentos
com a mão como a da Senhora toda aberta
ora, parando por vezes,
apenas com a ponta dos seus dedos
ligeiramente encurvados, docemente,
como se acariciasse dentro um cabelo
ainda pequenino e frágil…

O órgão enche o grandioso templo
e aquela mão do coração todo o tempo
cobre de pura ternura o pequeno templo
gerado em forma de um ovo e de um ó,
poema sagrado aquele momento
de enternecimento,
profana é qualquer palavra…

2013-10-27


in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, Ed. Forinfor, 278 pp, 2019.

* * *

Jrd, 2019-12-18

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Ondas de luz


Décimo quarto livro de Poesia, 
o primeiro de uma trilogia relativa ao mar.


Ondas de luz

  
Testei muito os números,
experimentei fórmulas
que imaginei
na penumbra do mundo
e da noite
enquanto dormia.

Dúvidas e interrogações
em olhares de crianças,
rastos de deuses,
magias de loucos,
restos de dias,
sonhos de partidas,
começos de auroras…

O entardecer vindo,
filtro devagar,
o filtro apertado,
imagens remotas
do mar ao fundo
e ondas de luz
na orla dos corpos
enquanto livres me chamam
as gaivotas

e vou…

2012-09-24

* * * 

In José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

* * * 

Jrd, 2019-12-17

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Fénix




Fénix


Pelos mistérios de nascer
de manhãzinha um dia nasci…
Durante o dia, como o Sol, cresci
e, lentamente, com o peso de já ser,
subi primeiro em trevas, por não ver,
depois em luz de Norte,
depois de Sul…
Como o Sol, pela Terra viajei.
Como tu, parei, voei, caí e recomecei.
Como o Sol, desci.
Ao poente chegar, lá ao fundo do mar,
numa pira com raios de fogo, morri.
Das cinzas e das trevas,
ao outro dia de manhãzinha,
como o Sol, renasci!

2011-08-19


* * * 

In José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

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Jrd, 2019-12-16

domingo, 15 de dezembro de 2019

Sol a nascer




Sol a nascer 


Almoçámos todos,
o céu estava luminoso,
passeámos pelo tempo à beira de mares
até que a brisa mais fresca nos recolheu.
Fraternos, ceámos alguns como em última ceia
sob uma penumbra oscilante de quase luz
com falas entrecortadas de omissões,
com posições reafirmadas
e com veementes negações
em momentos de cristalina verdade.
A fronteira estava agora ali,
tinha a forma de um sim ou de um não,
a altura que parecia pequena
de três letras apenas…

Era de noite,
sentimos sombras,
do escuro tivemos medo
e ficámos,

baixando os olhos
dissemos que não…

Não fomos…
Não indo
não vimos a madrugada,
a Luz
no Sol a nascer…

2012-01-31

* * * 

In José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

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Jrd, 2019-12-15

sábado, 14 de dezembro de 2019

A costa alentejana, o mar e o amor


Foto da costa alentejana


A costa alentejana, o mar e o amor

A longa costa corre quase tortuosa
em falésias ao longo do mar,
abraçando-o, reduzidas as linguetas
compridas de areias finas.
Nas praias são libertados e deixados livres
em noites de luar
movimentos lânguidos
de corpos quentes se abraçando
que o mar
com os seus braços de água vai refrescando…

Então, enlevado, o mar salgado
beija a costa em gemidos doces
e nela se espraia
derretido
em longos movimentos pausados…

2010-08-19

* * * 

In José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

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Jrd, 20019-12-14

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sagres


(O primeiro poema deste último livro...)



Sagres 

  
Naquela ponta de Sagres, a ocidente,
tão pequenino, embrenhado no sagrado,
olhando o Astro a entrar naquele profundo mar,
como poderia o Homem imaginar a Terra a rodar
à volta do Sol, se ele ali o via, deslumbrado, soterrado,
a entrar no mar da Terra e no outro dia, do outro lado,
de novo o via em amarelo a desabrochar a oriente?...

Quem tal não diria, ali, naquele poente,
ali, naquele místico pôr-do-sol, em queda milenar,
que outra coisa, Galileu, qualquer outro movimento,
não seria uma louca e perigosa heresia?…

Então, qualquer um, lúcido, em paz profunda, ali não via
o que toda aquela santa gente ali sentia,
o que tão simples e puro ali acontecia?...

Só não compreenderia um louco…
Louca a Terra…

Terra louca,
que a Terra roda
quando roda a cabeça de um louco…


* * * 

in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

* * * 

Jrd, 20019-12-13

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia)



127 poemas, 216 pp.

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Avistamentos de mares

Primeira viagem

(Trilogia)

*

O décimo quarto livro de Poesia
(o quarto de 2019).


Jrd, 2019-12-12

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Oásis


Décimo livro de Poesia.

Oásis


Rasgo um rego fundo do mar até este seco
e a água derramando-se vem em verdes e azuis
e a vida espraia-se pelas ondulações dos dias.
Pelo caminho tiro o sal
nas areias coado
e à morte o deixo.
Consulto a sabedoria dos anciãos
nos sinais maiores do Sol e da Lua
e os pormenores na discrição da noite
em estrelas que nos adormecem
ao som intercalado de grilos.

Da construção,
limpo o suor ao chegar da noite
e pelo sono
fecho o dia
e abro devagar o dia seguinte.

De duas palmeiras faço duas colunas
e à entrada as coloco direitas,
como no cais
da cidade maior
das Tágides.

Depois, no sagrado puro
deste chão regado de verdes e azuis
irão habitar os homens…

2012-04-13

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro um, 1/10 (Janeiro a Junho de 2012), Ed. Forinfor, 280 pp, 2018.


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Jrd, 2019-12-10

segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Lavra de palavra


Nono livro de Poesia (2018).

Lavra de palavra

  
Salta quase amedrontada a palavra de lavra feita,
não a conheço de lavra por fazer.
O poeta faz a terra macia
arada após arada
e sempre semeia
embora sem saber bem o quê
em cada dia.
Creio que é semente do que guardou
em cada rasgo avivado
da vida e da morte
e talvez da sorte
que em traço fino de luz
e em derrames de sombras
mais sinais deixou
e em cadinho lento se desfez
e outro do outro rebentou.

Depois, de repente, salta uma palavra
quase justa e quase que perfeita
embora  quase sempre tardia
como uma perdiz amedrontada
de uma seara
ao vento
na Primavera.

2013-09-22


in José Rodrigues Dias, Da semente, Ed. Forinfor, 254 pp, 2018.


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Jrd, 2019-12-09