sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sagres


(O primeiro poema deste último livro...)



Sagres 

  
Naquela ponta de Sagres, a ocidente,
tão pequenino, embrenhado no sagrado,
olhando o Astro a entrar naquele profundo mar,
como poderia o Homem imaginar a Terra a rodar
à volta do Sol, se ele ali o via, deslumbrado, soterrado,
a entrar no mar da Terra e no outro dia, do outro lado,
de novo o via em amarelo a desabrochar a oriente?...

Quem tal não diria, ali, naquele poente,
ali, naquele místico pôr-do-sol, em queda milenar,
que outra coisa, Galileu, qualquer outro movimento,
não seria uma louca e perigosa heresia?…

Então, qualquer um, lúcido, em paz profunda, ali não via
o que toda aquela santa gente ali sentia,
o que tão simples e puro ali acontecia?...

Só não compreenderia um louco…
Louca a Terra…

Terra louca,
que a Terra roda
quando roda a cabeça de um louco…


* * * 

in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.

* * * 

Jrd, 20019-12-13

Sem comentários:

Enviar um comentário