(O primeiro poema deste último livro...)
Sagres
Naquela ponta de Sagres, a ocidente,
tão pequenino, embrenhado no sagrado,
olhando o Astro a entrar naquele
profundo mar,
como poderia o Homem imaginar a Terra a
rodar
à volta do Sol, se ele ali o via,
deslumbrado, soterrado,
a entrar no mar da Terra e no outro
dia, do outro lado,
de novo o via em amarelo a desabrochar
a oriente?...
Quem tal não diria, ali, naquele
poente,
ali, naquele místico pôr-do-sol, em
queda milenar,
que outra coisa, Galileu, qualquer
outro movimento,
não seria uma louca e perigosa
heresia?…
Então, qualquer um, lúcido, em paz profunda, ali
não via
o que toda aquela santa gente ali
sentia,
o que tão simples e puro ali
acontecia?...
Só não compreenderia um louco…
Louca a Terra…
Terra louca,
que a Terra roda
quando roda a cabeça de um louco…
* * *
in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 216 pp, 2019.
* * *
Jrd, 20019-12-13
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