domingo, 31 de maio de 2020

A passarada




A passarada

  
É minha amiga toda a passarada,
gosto tanto como ela da liberdade, talvez mais,
porta da minha casa franqueada...

Comida e bebida é como gosta,
todo o ano, é a primeira a servir-se
mal a mesa acaba de ser posta…

Estão chegando os figos lampos,
são eles que os provam
como às nectarinas, as ameixas...

As uvas é que lá longe ainda vêm,
só agora é que estão a acabar de limpar,
nem em sonho as abelhas as vêem…

Cada pássaro, ou casal, tem um quarto, é enorme,
eles próprios depois fazem a sua cama, livremente,
e aí se amam como gostam e aí nascem para voar…

Dormem quando querem,
ninguém os maça,
a cor do tempo os acorda...

Os meus pássaros
são livres, 
livres os seus filhos...

Gosto deles, os pássaros
cantam para mim, ora uns, ora outros,
sinto que agradecendo...

2017-05-31

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in  José Rodrigues Dias, Poemas em tercetos simétricos, diarísticos, Livro II (Abril a Junho, 2017), Ed. Forinfor, 144 pp, 2018.


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Jrd, 2020-05-31

sábado, 30 de maio de 2020

Poemas confinados (2020, Janeiro a Abril)





Décimo sétimo livro publicado de Poesia, desde 2010,

o terceiro em 2020,

123 poemas,

Ed. Forinfor,

148 pp.


As badanas podem ser vistas no blog, um pouco mais abaixo.


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As capas dos livros anteriores, aqui no blog, no lado esquerdo.


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Jrd, 2020-05-30


sexta-feira, 29 de maio de 2020

Da oliveira




Da oliveira


Velhinha, quanta história presenciada,
cada ruga um rol de memórias, sóis, ventos, silêncios,
sem conta a idade, oliveira acarinhada...

Pomo-nos a conversar, todo o tempo é bom,
falamos sem palavras, em silêncio,
as palavras dizem pouco, conta-me histórias...

Por vezes, pergunto-lhe o que sucedera,
se fora ali terra de trigo, que animais houvera,
por que mão chegou e se de longe viera...

 Abana as folhas, mexe um pouco uma ramada
e em tom calmo de sábia, diz como se em pergunta:
que importa agora isso…, e remexe-se, cansada...

A idade nos vai aproximando
conhecendo-nos melhor, gosto dela, pertencemo-nos,
e o tempo nos vai ensinando...

2017-05-29

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in  José Rodrigues Dias, Poemas em tercetos simétricos, diarísticos, Livro II (Abril a Junho, 2017), Ed. Forinfor, 144 pp, 2018.

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Jrd, 2020-05-29

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Não as pises, são flores também





Não as pises, são flores também


Amigo, olha em frente, caminha,
mesmo se nuvens embaciando o caminho,
olha a luz saindo de ti e caminha...

Sim, caminha,
que a luz do teu norte
te encaminha...

Olha também para cima
mas, repara, das curvas do caminho
não te esqueças do chão...

Procura o Sol a nascer
e quando ele se for e anoitecer
olha a Lua a acontecer...

Na Lua
há sempre amor
a viver...

Tranquilo faz isso
que o tempo roda, sempre roda
tranquilo o tempo...

Caminha e olha a luz das estrelas
mas olha também o chão, não te esqueças,
há curvas e há das pedras arestas...

Mas olha, olha o teu chão bem
porque, repara, tem pequenas flores,
não as pises, são flores também...

Impotente,
da sorte, do tempo, do nascimento,
tem gente...

2017-05-28

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in  José Rodrigues Dias, Poemas em tercetos simétricos, diarísticos, Livro II (Abril a Junho, 2017), Ed. Forinfor, 144 pp, 2018.

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Jrd, 2020-05-28

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Descansa




Descansa


Senta-te,
deixa as pernas,
descansa no verde,
estás agora só,
és o mundo,
o futuro é amanhã,
para ti
serenamente sorri…

Até o Sol,
além, lá ao fundo,
até o Sol que é aceso fogo
(quanto mais tu …),
serenamente se deita ao fim do dia
e nos braços do mar se apaga
e adormece…

A Lua, meiga, mulher,
a todos maternalmente vigia
de perto, de longe,
o mais que puder,
sempre rondando em bicos de pés
muito discretamente
até pelas cortinas ondulando pelo céu,
e nos olhos de prata se enternece,
Mãe, Lua,
doce,
mulher…

2012-05-28

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro um, 1/10 (Janeiro a Junho de 2012), 280 pp, 2018.


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Jrd, 2020-05-27

terça-feira, 26 de maio de 2020

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Badana do novo livro




Badana do novo livro

(em fase de impressão):


Poemas confinados (2020, Janeiro a Abril), 148 pp.


Jrd, 2020-05-25

domingo, 24 de maio de 2020

Este Sol do Alentejo




Este Sol do Alentejo


A pique, pesado, inclemente, cai este Sol do Alentejo.
Aprendendo com a gente da vida experiente, as flores
abrigam-se à sombra da copa de uma vetusta oliveira,

a uma pedra
encostadas como anciãos sob uma velha azinheira
a um cajado,

cantarolando
uma velha canção
te embalando…


José Rodrigues Dias, 2020-05-24

sábado, 23 de maio de 2020

Quotidianos





Quotidianos


Outro dia de trabalhos bem cheio:
daninha a erva depressa no pomar cresce
e de semear eis já parte da colheita,

e semear
ainda para ser esperado fruto
no futuro…

Contudo, do calor sorrateiro o oídio veio,
não é um vírus mas é um fungo virulento,
em folhas macilentas, doentes, da videira,

e também do calor que amolece
uma boa pinga de água fresca (sim, as flores também),
toda a raiz novinha já a agradece…

Por fim, é a voz do corpo cansado ali presente
e a do Sol já ausente, já deitado, lá de longe:
Então, então… Não vês… Amanhã é outro dia…

Uma aragem
refresca
agora a noite…

É o quotidiano
que escreve, de ter aprendido pelos caminhos,
toda a palavra…


José Rodrigues Dias, 2020-05-23


sexta-feira, 22 de maio de 2020

Capa e dedicatória do novo livro de Poesia, o décimo sétimo.





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Dedicatória:





Para vós,
homens e mulheres, de bata, de farda, sem nada,
na frente,

enfrentando os longos dias, talvez doentes,
desafiando um medonho adamastor, invisível e tão concreto,
ousando defender e alongar nossas gentes,

para vós,
lutando contra o Covid-19, por mim, por nós,
obrigado!


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A capa e dedicatória 
do novo livro de Poesia, em impressão,
este o décimo sétimo...


Jrd, 2020-05-22

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Dia da Espiga




Dia da Espiga


O dia já longo, os braços cansados do calor suados…
Cai agora a tarde, o Sol já lá vai, a luz fica amena, macia…
Por entre espigas, um cacho de flores suaviza o dia…

De ter semeado
é tempo do primeiro balde
de fruto colhido…

Do pão,
a espiga erguida
no chão…


José Rodrigues Dias, 2020-05-21


quarta-feira, 20 de maio de 2020

Da luz de cada fotografia...




Da luz de cada fotografia...

  
Cada fotografia,
uma página aberta do livro da vida
que em nós se inscreve pela tardinha
como melodia...

Livro de autor
que sendo de todos
é de cada leitor...

Livro lido de mil, mil e uma..., maneiras
a mando de um coração, dúbia a razão,
dum momento, calor da luz em difusão,
e um olhar leve ou pesado das canseiras...

E tu sabes, aberta ao acaso cada página
ou, então, no contexto, na certa posição
lembrando ali ou não uma outra página...

Talvez ali esteja um menino
olhando longe o mar da vida, grande,
ali já sonhando, e pequenino...

Talvez ali tu, ainda menino,
sem ter o mar (o mar, tão longe, o que seria?...),
ou talvez tu, aí, pequenino,

a sondar, perscrutando, o mundo,
o relegere, o religare,
tudo ali simples mas tão profundo...

Eis a força de um  braço na partida
ou o Sol a pôr-se na jangada
regressando cada Ulisses
de longa e concreta jornada,
por cada Penélope uma teia urdida...

Da luz de cada fotografia
uma página de uma viagem
que como teia se escrevia...

2016-01-21


In José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar,
178 pp, 2016.


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Jrd, 2020-05-20


terça-feira, 19 de maio de 2020

O vírus e o templo





O vírus e o templo


Fechada é a porta do templo…
Dissimulado o vírus covid, ainda que ser profano,
pode entrar em chão sagrado…

Não distingue qualquer terra,
nem cor, nem olhar, nem o amor, nem o longe,
em todo o chão é a sua guerra…

Fechado,
da antiga sabedoria,
o templo…


José Rodrigues Dias, 2020-05-19

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Rosa de esperança




Rosa de esperança


 Em Maio uma rosa de esperança
aspergindo gotículas de luz
sobre as incertezas destes tempos…

Esperança:
da rosa a saúde vindo
se fará pão…


José Rodrigues Dias, 2020-05-18

domingo, 17 de maio de 2020

Até o poema...





Até o poema...


Se tu quiseres, será Primavera
todo o tempo em cada olhar
em todo o lugar desta esfera...

Prepara teus caminhos,
não te preocupes, o cansaço passa
num ombro de carinhos...

De bem semeia então a terra
e do mundo escuro nascerá outro, claro,
sem fome e sem mais guerra...

Rimando ou não, até o poema,
de tão simples, porque colhido do belo,
ficará para sempre como lema...

2016-02-05



in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.


Jrd, 2020-05-17

sábado, 16 de maio de 2020

Fraternidade




Fraternidade


Em cada cidade
que irrompa por fim a luz
da fraternidade!

Diferentes as minhas árvores são
quando por elas passo em cada tempo,
diversas as quis plantar por opção!

Assim me alimento
da diversidade do seu fruto
a todo o momento!

Não sei qual a sua religião,
sei que todas as minhas árvores
são fraternas no meu chão!

2015-01-12


in Fiat Lux (no ano da Luz), Ed. de Autor, 90 pp, 2015.


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Jrd, 2020-05-16