terça-feira, 5 de maio de 2020

Lavra de palavra




Lavra de palavra



Salta quase amedrontada a palavra de lavra feita,
não a conheço de lavra por fazer.
O poeta faz a terra macia
arada após arada
e sempre semeia
embora sem saber bem o quê
em cada dia.
Creio que é semente do que guardou
em cada rasgo avivado
da vida e da morte
e talvez da sorte
que em traço fino de luz
e em derrames de sombras
mais sinais deixou
e em cadinho lento se desfez
e outro do outro rebentou.

Depois, de repente, salta uma palavra
quase justa e quase que perfeita
embora  quase sempre tardia
como uma perdiz amedrontada
de uma seara
ao vento
na Primavera.


2013-09-22



in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.

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