Lavra de palavra
Salta quase amedrontada a
palavra de lavra feita,
não a conheço de lavra por
fazer.
O poeta faz a terra macia
arada após arada
e sempre semeia
embora sem saber bem o quê
em cada dia.
Creio que é semente do que
guardou
em cada rasgo avivado
da vida e da morte
e talvez da sorte
que em traço fino de luz
e em derrames de sombras
mais sinais deixou
e em cadinho lento se desfez
e outro do outro rebentou.
Depois, de repente, salta uma
palavra
quase justa e quase que
perfeita
embora quase sempre tardia
como uma perdiz amedrontada
de uma seara
ao vento
na Primavera.
2013-09-22
in José Rodrigues Dias, Da semente, 254 pp, 2018.
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