domingo, 28 de fevereiro de 2021

O carro e o corpo

 



Poema escrito neste dia, em 2019:


O carro e o corpo

 

 

Lavas o carro:

chia uma porta, comando avariado, lâmpada fundida,

olhas o corpo…

 

Limpas o carro:

tecido com manchas, dedadas entranhadas,

pensas no corpo…

 

Espelhas-te no carro:

deformada, dos riscos do tempo, do tempo já passado,

é a imagem do corpo…

 

2019-02-28

 

in José Rodrigues Dias, Poemas nas ondas dos dias, I (2019, Janeiro a Março), 162 pp, 2019.


Jrd, 2021-02-28


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sábado, 27 de fevereiro de 2021

Mistérios, raízes e pão





Poema escrito neste dia, em 2018: 


Mistérios, raízes e pão

 

 

Respiro e olho,

é o chão que cheira

a terra fresca...


Na semente

o mistério de ser raiz

para ser pão...

 

Também a mente

se alimenta

de raízes e de pão...


2018-02-27

 

 in José Rodrigues Dias, Cadernos Diários de Poesia, Inverno (2018, Janeiro a Março), 118 pp, 2019.


Jrd, 2021-02-27


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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Semente de sorriso

 



Poema escrito neste dia, em 2013:


Semente de sorriso


 

Sinto que as árvores me chamam

e que a terra se aquece

para ser mais mãe…

Pródigas

seguem o seu caminho

como formigas em seu carreiro

e água pelos riachos em Sol de Primavera 

e mulher quando é tempo de florir…

Tudo segue o seu caminho

ou um intrínseco destino

(como se definirá, se até o próprio feijoeiro

se enrola sempre do mesmo jeito?),

mas todos no andar

nos guardamos

em abrigos

e fechamos

em dias de perigo…

 

Porém, nada como uma estaca

ou uma semente e uma enxada

ou, então, um sorriso…

 

Acima de tudo, semente de sorriso

em solos e sóis tristes

para os caminhos que poderão vir…

 

2013-02-26


in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), 106 pp, 2016.


Jrd, 2021-02-26


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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

Talvez a Vida seja a Primavera

 


Poema escrito neste dia, em 2018 (a foto de hoje):


Talvez a Vida seja a Primavera

 


Recolhe-se em sua casa, bem dentro de si,

a chuva lava o sujo, o vento leva o seco já sem vida,

e a semente sente o seu tempo de renascer...


Desço ao interior do poço,

dentro de mim desço, o tempo é da noite

e é no silêncio que me oiço...


Recolhido, vendo sem ver, a palavra dita baixo,

não há ruído, só eu e o que digo e oiço, só eu,

chuva é uma outra coisa como o silvo do vento...


Chuva, neve e vento,

objectos do tempo limpando pragas,

dentro é outra coisa...

  

Lembro esse sentido da Quaresma,

entrega, partilha do pão e morte, e da semente

almejando ver a Luz de Primavera...

 

Saio por momentos de mim, observo:

são rebentos, olha tu, são rebentos de amendoeira

a caminho de ser flor e a flor ser fruto...


Dentro dela, parecendo morta, sem viço,

a semente de vida, talvez a Vida seja a Primavera,

que do interior da noite faz a luz do dia...


2018-02-25

 in José Rodrigues Dias, Cadernos Diários de Poesia, Inverno (2018, Janeiro a Março), 118 pp, 2019.


Jrd, 2021-02-25


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Estilete de fogo



Poema escrito neste dia, em 2014: 


Estilete de fogo

 

 

Tinta permanente antiga

como mão apertada

pelo olhar selada

que ao vento

não oscila,

sagrada

a palavra

como se gravada

com estilete de fogo

em tábua muito antiga…

 

2014-02-24



in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012-2016), Livro cinco, 5/10 (Janeiro a Junho de 2014), 264 pp, 2020.



* * * 


Jrd, 2021-02-24


terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Irmãs, irmãos

 



Poema escrito neste dia, em 2018, a foto de hoje:


Irmãs, irmãos

  

No seco deste chão

entre agulhas jazendo de pinheiro

nascem flores irmãs...

 

E nascendo iguais,

os caminhos em mares salgados, ou doces,

crescem diferentes...

 

Irmãs e diferentes, a mesma raiz,

o mesmo tempo, talvez outro vento ou o sopro,

e diferentes como bagos de romã... 

 

Retornar sempre

a essa primeira e velha coisa de falar

da vida da gente...

 

2018-02-23


in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Terceira viagem (Trilogia), 226 pp, 2020.


* * * 


Jrd, 2021-02-23


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O sabor dos frutos, e dos beijos



 

Poema deste dia, em 2020:


O sabor dos frutos, e dos beijos

 

 

Da tua mão árvores plantadas,

nas árvores o sorriso de mãos cheias de flores,
nas flores os beijos de abelhas...

Da tua mão
o sabor dos frutos,
e dos beijos...

 

2020-02-22

 

in José Rodrigues Dias, Poemas confinados (2020, Janeiro a Abril), 148 pp, 2020. 


Jrd, 2021-02-22


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domingo, 21 de fevereiro de 2021

Teria a raposa fome?

 


Hoje, a propósito de uma reportagem num canal de televisão:


Teria a raposa fome?

 

 

Vindos do lado do mar,

já de noite, a luz a dos homens,

a noite clara, quase luar...

 

Apareceu, saltou para o muro,

felino, olhar vivo, esguio, e digo-me:

ei-lo, aqui está o gato da praia...

 

Mas não, o gato da praia não, não era,

é outro, e gato, gato mesmo, também não...

Talvez um saca-rabos como o de Verão...

 

Nós vindo

(seria uma raposa?...),

o ser vindo...

 

Saltando muros,

parando, olhando, sentando-se,

eu fotografando...


Para casa nós já indo

e o ser, parando, andando, nos olhando,

e o ser lá vinha vindo...

 

Abro a porta do outro lado,

fechada a de entrada,

e logo aparece, fica deitado...

 

Deitado, talvez sentado, não sei,

o focinho afiado, olhos de luz reluzindo,

rabo engordado, coisa de raposa...

 

Sim, virada para mim, meiga, doce,

a dois metros, não mais, como em pose,

uma jovem raposa talvez com fome...

 

Vindo, modo meigo,

nós para casa indo, laudato si'!…,

teria a raposa fome?

 

2016-11-07


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dez, 10/10 (Julho a Dezembro de 2016), 296 pp, 2021.


sábado, 20 de fevereiro de 2021

Lágrima de videira

 



Escrito neste dia, em 2020:



Lágrima de videira

 

 

Nascendo do ramo cortado,

a seiva escorrendo como sangue branco translúcido,

crescendo em lágrima densa…

 

Depois, de crescer alonga-se a gota,

talvez seja do peso da dor do meu golpe, fui eu,

caindo como uma lágrima da gente…

 

Olho-a com ternura, é quase de culpa,

sentindo uma espécie de pena, de a ter ferido,

o corte foi meu, embora fosse por bem…

 

Olhando, digo-lhe:

desculpa, foi por bem, tu sabes, ficarás mais forte e bela,

amanhã rejubilarás…

 

2020-02-20


in José Rodrigues Dias, Poemas confinados (2020, Janeiro a Abril), 148 pp, 2020. 


Jrd, 2021-02-20


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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Renascendo




Escrito neste dia, em 2012:


Renascendo

 

 

 

Pelos caminhos que percorremos

sempre

um pouco morremos

em pedacinhos dentro de nós

ficando vivas as memórias

de caminhos de vós…

 

Refazemo-nos renascendo

no primeiro choro de uma criança

que assoma à face da terra

assustada

que se abrindo se rasga

violentamente,

mas que sara,

como num raio de luz crepitada

de uma centelha de fogo

por vós deixada

com amor

se por nós espevitada…

 

2012-02-19


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro um, 1/10 (Janeiro a Junho de 2012), 280 pp, 2018.


* * * 

Jrd, 2021-02-19


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O novo livro de Poesia, o vigésimo sexto.

 



O novo livro de Poesia, o vigésimo sexto.


* * * 


Notas do Autor

 

Segundo livro deste ano de 2021, a pandemia uivando feroz, ano dos setenta anos, se a Vida, a ela o autor grato, o permitir. Caminhos cheios de actividades variegadas, olhares tensos e de sorrisos, ganhando o pão, dia a dia, vindo lá de longe, as origens entranhadas,  caminhando sempre, o olhar levantado, dos calos do trabalho altivo, livre.

 

Aqui chegado, olhando o tempo, este o décimo primeiro ano de Poesia publicada, de ser Aprendiz de Poeta, aprendiz eterno dos homens, dos caminhos, da Vida.

 

Este o último livro de uma série de dez, incluindo os poemas escritos ao longo do segundo semestre de 2016, que o autor decidiu publicar, por semestres,  contemplando o período de 2012 a 2016, inclusive, com o título genérico Diário Poético (2012–2016).

 

O Livro um, constituído por 154 poemas, foi publicado em 2018. Os sete seguintes em 2020, sendo este e o anterior já em 2021. O Livro dois inclui 156 poemas, o Livro três, 173, o Livro quatro,  179, o Livro cinco, 168, o Livro seis, 103, o Livro sete, 110, o Livro oito, 244, o Livro nove, 139, contendo este Livro dez 220 poemas, todos eles apresentados por ordem cronológica, com um total de 1.646 poemas nos dez volumes. Olhando os números, em média, foram escritos (e publicados) um pouco mais de nove poemas no período de cada dez dias, ao longo dos cinco anos.

 

Refira-se, agora que está publicado este último volume, que foi definido, logo no início, o seguinte critério para o poema de cada contracapa: se o semestre fosse ímpar, ficaria o primeiro (abrindo o ano); se fosse par, ficaria o último (fechando-o).

 

Este Livro dez é o vigésimo sexto livro de Poesia do autor (o primeiro em 2010, o segundo em 2011, o terceiro em 2015, dois em 2016, dois em 2017, três em 2018, quatro em 2019, dez em 2020 e, com este, dois em 2021).

 

Dos 220 poemas que constituem este volume, 42 já antes haviam sido publicados em três livros temáticos do autor, estando devidamente referenciados através de um índice.

 

Não se pretendeu introduzir nos poemas já publicados qualquer alteração, salvo algum pequeno pormenor.

 

Escritos há uns anos, os poemas ainda não publicados em livro foram agora aqui revistos, não tendo sido, porém, alterados na sua essência, sofrendo apenas uma ou outra pequena modificação. Quis o autor mantê-los como nasceram, no seu próprio contexto. Por outro lado, não foi excluído, tal como nos livros anteriores desta e de outras séries, qualquer poema encontrado, ficando, assim, o olhar integral do autor no período respectivo. Contudo, é possível que algum poema, por não encontrado, tenha sido omitido.

 

Diversos poemas foram sendo publicados no blog de Poesia do autor, Traçados sobre nós, iniciado em  10 de Novembro  de 2011 e que se mantém até hoje, com uma janela aberta para o Facebook, sentindo e respirando outros ares.

 

Exceptuando os dois primeiros livros, de 2010 e de 2011, é também do autor todo o trabalho de elaboração deste Livro dez, excepto o acto de impressão. Assim, todas as falhas são da sua responsabilidade. Se algum mérito houver, será fruto dos caminhos, diversos, alguns longos, pelo autor percorridos. Juiz, o leitor!

 

Este Livro dez é o segundo publicado em 2021. É desejo do autor publicar outros, bastantes mais, ousando no caminho, deixando registada em livros a sua escrita diarística ao longo destes últimos dez ou onze anos, assim organizados:

 

a)      dois livros com os poemas ainda não publicados de 2017, integralmente escritos em tercetos simétricos (o segundo verso como eixo de uma simetria visual, geométrica), relativos aos dois últimos trimestres desse ano (os outros dois já publicados, em 2017 e 2018);

b)     três livros, também em tercetos simétricos, relativos aos três últimos trimestres de 2018 (o do primeiro trimestre já publicado, em 2019);

c)      três livros, igualmente em tercetos simétricos, relativos aos três últimos trimestres de 2019 (o do primeiro trimestre já publicado, em 2019);

d)     um livro com os poemas escritos em 2020, também em tercetos simétricos e ainda não publicados;

e)      um livro com os poemas anteriores a 2012 e ainda não publicados;

f)      quatro outros livros, temáticos, com selecção de poemas: um com referências  à sua origem nordestina, a pedra moldando o destino; outro relativo a Évora e ao Alentejo, terra de adopção; outro com poemas tocando temas científicos; e um quarto com poemas envolvendo algum simbolismo esotérico.

 

Seria, assim, neste ano de 2021, como que uma simbólica comemoração dos setenta  anos de vida do autor, ele que nunca comemorou festivamente o seu aniversário, depois de uma vida dedicada a fórmulas e a números, a computadores (hardware e software), ao ensino e à investigação, com traços nestas áreas reconhecidos nacional e internacionalmente, acrescentando-lhe agora este novo caminho, inesperado, tardego, da Poesia.

 

Com uma centena de trabalhos científicos publicados, em Portugal e no estrangeiro, em português, francês e inglês, com milhares e milhares de linhas de código de computadores escritas, com este Livro dez o número de poemas diferentes publicados (em livros) ultrapassa já os 2.535.

 

De números deverá saber o autor, referindo, talvez por isso, tantos! Pela quantidade, e por assim cruamente a referir, que seja perdoado. Da qualidade dos poemas saberá o leitor.

 

 

José Rodrigues Dias



* * *


Jrd, 2021-02-11



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