Regresso ao silêncio
Sento-me agora aprumado
atrás,
norte ou sul, o lado da luz
agora tanto faz,
e ouço cada vez mais calado
como já quase um ancião à
tardinha
em pequeno morro olhando o
vale
quase só consigo falando
(tão inúteis tantas
palavras…),
interrogando as luzes, a
Luz,
Deus de vez em quando
e quando o Sol se põe
(digo quase ancião por o
seu saber não ter,
nem o poderia ainda ter,
pois se nem idade
nem aquele seu cabelo
branco
e tão pequenino ainda o
morro atrás)…
Antes, no início e mesmo
depois,
não falava, era o silêncio,
era eu nada,
que falar não podia por
ainda não saber
(e um homem tantas vezes
pensa que sabe,
tanto homem que pensa saber
e não sabe…),
antes, repito, calado e
tanto por entender,
palavras e sinais de outras
vidas e vias
de que eu ainda não sabia
nem via,
apenas dúvidas e
interrogações
que então em sombras sentia…
Regresso agora ao silêncio
que de outro lado me ensina
e com ele reaprendo
e me purifico,
ouvindo-o…
2013-01-24
in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.
* * *
Jrd, 2020-08-04
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