terça-feira, 4 de agosto de 2020

Regresso ao silêncio





Regresso ao silêncio


Sento-me agora aprumado atrás,
norte ou sul, o lado da luz agora tanto faz,
e ouço cada vez mais calado
como já quase um ancião à tardinha
em pequeno morro olhando o vale
quase só consigo falando
(tão inúteis tantas palavras…),
interrogando as luzes, a Luz,
Deus de vez em quando
e quando o Sol se põe
(digo quase ancião por o seu saber não ter,
nem o poderia ainda ter,
pois se nem idade
nem aquele seu cabelo branco
e tão pequenino ainda o morro atrás)…
  
Antes, no início e mesmo depois,
não falava, era o silêncio, era eu nada,
que falar não podia por ainda não saber
(e um homem tantas vezes pensa que sabe,
tanto homem que pensa saber e não sabe…),
antes, repito, calado e tanto por entender,
palavras e sinais de outras vidas e vias
de que eu ainda não sabia nem via,
apenas dúvidas e interrogações
que então em sombras sentia…

Regresso agora ao silêncio
que de outro lado me ensina
e com ele reaprendo
e me purifico,
ouvindo-o…

2013-01-24

in José Rodrigues Dias, Emanações do silêncio, 278 pp, 2019.


* * *

Jrd, 2020-08-04

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