Vidas
A Lua de meia passa a cheia naquela
noite,
com amor e mistérios de amantes
fundindo-se
em horizontes sonhados no reflectir
ampliados
de águas calmas e doces de lago enorme
em quase planície,
ou de águas salgadas quase planas
em praia então deserta
com luz reflectida em mar imenso em
balouço doce,
embalando o amor.
A Lua de cheia passa a meia no dia
seguinte.
Na planície a água deixa de ser fresca
e começa a evaporar-se.
No mar as águas em ondular crescente
começam a levantar-se.
A luz reflectida da Lua começa a
esgueirar-se
no sumir do lago e no agitar aumentado
do mar.
O sonho de ontem em Lua cheia começa a esfumar-se
por uma neblina difusa soltando-se do lago
minguando
e do mar em ondular crescente se
agigantando.
De meia passa a nada a Lua na noite
seguinte.
Não há dia, não há lago, todo ele se
evapora,
ficando seco o lugar do lago.
Só há agitado e tenebroso mar sem praia
e sem vislumbrar esperança boa em cabo.
O ser todo se desmorona.
Nada!
Só há noite.
Nem noite quase há por ser de breu a
noite.
Não há luz.
Até o mar a gritar revoltado deixa de
se ouvir
abafado por sumidos gemidos na noite
incontidos.
Buracos negros em terra e céu sugam
toda a réstia de luz.
Nada!
De nada,
de nada a Lua passa a fina curva de luz
de outra Lua.
Como em sonho, há um clarear no
amanhecer
de outro dia.
Há uma espécie de moinha de destroços,
uma espécie de outra neblina,
invertida.
A chuva cai e o lago de novo plano se
forma.
Nos agitados mares, deitam-se de
cansaço as marés.
Os corpos refrescam-se em água caída de
baptismo
e o ser dos corpos purifica-se em
renovada iniciação.
Os barcos encalhados voltam a ondular
sem dor
como em noite de Lua cheia,
sentindo o agitar partilhado do amor!
2010-06-27
in José Rodrigues Dias, Traçados Sobre Nós, 106 pp, 2011.
Jrd, 2020-08-23
Sem comentários:
Enviar um comentário