sábado, 15 de agosto de 2020

Falo sempre de nós

 


Falo sempre de nós

 

 

Falo sempre de nós,

as palavras livres

e pontuações

que quero justas sempre

e sempre com o rigor das linhas,

dezenas de milhares, tantas que foram…,

de códigos de máquinas

por dentro cinzeladas em detalhes

em que nos entendíamos exactamente

como se a mesma fosse a frequência da onda

em que juntos nos libertávamos a navegar

distinguindo os dois tão precisamente

um ponto e vírgula de um ponto

e cada um deles de uma vírgula,

ou um ponto de interrogação

de um de exclamação,

como planeta, estrela, cometa,

sem falar de tudo o resto...

 

E assim se fazia o céu

e a alma se abria

em cores e sons

que então ensinávamos

a serem plumas e chilreios de pássaros

e flores de colos abertos bendizendo o céu

e sorvendo num cair de tarde a luz

de um arco-íris ali

e tão longe…

 

Falo sempre de nós,

homem hoje

interrogando os pormenores

de cada arco longo

de um arco-íris,

 

atónito,

deliciado…

 

2012-11-12


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), 238 pp, 2020.


* * * 

Jrd, 2020-08-15

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