sexta-feira, 7 de agosto de 2020

Eu, carrinho de linhas, e tu, ipad…



Eu, carrinho de linhas, e tu, ipad

 

 

Eu, carrinho de linhas,

e tu, ipad

E, eu to digo, outra geração já lá se perfila

no caminho que se segue…

 

O mesmo homem

a nascer

e a morrer

(cabeça tão insegura

que de tão frágil tanto se curva

e tomba

e só pelo que faz perdura…)

e tão diversos os materiais

e a construção dos caminhos

e aqueles sinais de fumo das fogueiras

de tempos antigos de guerra e paz

e agora todos estes sinais

de comunicação

 

que já não se faz

com o andar das rodas dentadinhas

e tão certinhas

como eu as fazia

nos meus carrinhos de linhas

de elástico e de sabão

que subiam qualquer ladeira

com a força da torção que ia

até onde ia a imaginação…

 

Era eu  assim,

um pequenino menino aprendiz

em construção…

 

Porém, os mesmos eram os sonhos

cristalinos e puros

da criança que eu então era

e que estavam naquele carrinho de linhas

e os sonhos que estão no teu ipad

 

E as mesmas são as bolinhas

de sabão

fazendo-se e desfazendo-se

em arco-íris

no mesmo enlevado olhar

de meninos

a sonhar

num dia como este de verão…

 

Tu num caminho em construção,

eu, olhando, saboreando o tempo

em maturada e pura deleitação…

 

2013-08-05


in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.


* * *   

José Rodrigues Dias, 2020-08-07

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