terça-feira, 14 de abril de 2020

Vida



Vida


De seu tempo acabado,
parece ser a morte,
o seu instante chegado…

Tronco e membros ressequidos,
braços caídos abandonados,
peso reduzido
do corpo sem viço,
o seco
apenas pelo osso preso…

O corpo desfolhado,
tantos verdes que antes fora,
tanta tonalidade reflectida,
tão baço e parado agora,
morto que ali está…

Onde o sangue e a seiva,
as correntes de Primavera
em fios sem fim?

Parece a morte,
a morte…

Mas, olha,
pega-lhe na mão,
molha os seus lábios,
vai-os sempre molhando,
tira-lhe os podres e os secos,
corta-lhos
mesmo que pareça desumano…

Não lhe deixes o ser,
não,
não o deixes morrer!

Olha-o sempre,
chama-o,
cada momento!

Vai-o espicaçando,
acredita, sim,
chama-o sempre…

Verás, à vida voltará!

Um dedo, o braço
o gomo, um olhinho,
o ramo em abraço…

2012-06-11


in José Rodrigues Dias, Tons e Sons de Primavera(s), Ed. Forinfor, 106 pp, 2016.

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