Primavera triste
A primavera chegou sem esperança
trazer.
O fogo do desespero consome campos
e fábricas,
Consome sociedades e nações,
Consome continentes,
Consome corações.
As falsificações aumentam
E aumentam as corrupções.
Punições, nada!
Que justiça, Senhor?!
Os despedimentos explodem
E matam as fomes.
Como é possível tudo isto acontecer
Sem nada se fazer?
Pergunto-me, sem
resposta ter:
Como deixaram
eles a tudo isto chegar,
Sem nada prever,
Sem nada
vislumbrar,
Sem nada dizer,
Para cada um se precaver?
Ouso, contudo,
responder-me
Que eles
sabiam,
Eles sabiam,
Que eles pelo
menos pressentiam,
Pois tinham que
antever,
Que isso teria
que ser seu dever e saber.
Infelizmente,
nada:
Nem ver, nem
dever, nem saber…
Nada!
Ouso ainda
pensar
Que no seu
conhecer,
Ou no seu
pressentir,
Nada quiseram
fazer
A não ser para
o lado olhar
E a outros
deixar o agir.
A outros,
iguais,
Sem agir,
Ou a fingir,
Para o lado
olhar,
A assobiar,
A fortunas
ganhar!
Que triste esta
primavera,
Sem esperança
trazer,
Com sonhos
feitos a desfazer,
Ou sem sonhos
poder ter,
As gentes
tristes a sofrer,
Os corações a
sangrar,
Sem
responsáveis castigar,
Sem justiça
haver nem ter!
Este é o mundo!
Talvez o mundo
a merecer
Sem primavera
de esperança haver…
José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Tartaruga Editora, 2010.
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