Sagres
Naquela ponta de Sagres, a
ocidente,
Tão pequenino, embrenhado no
sagrado,
Olhando o Astro a entrar naquele
profundo mar,
Como poderia o Homem imaginar a
Terra a rodar
À volta do Sol, se ele ali o via,
deslumbrado, soterrado,
A entrar no mar da Terra e no outro
dia, do outro lado,
De novo o via em amarelo a
desabrochar a oriente?...
Quem tal não diria, ali, naquele
poente,
Ali, naquele místico pôr-do-sol, em
queda milenar,
Que outra coisa, Galileu, qualquer
outro movimento,
Não seria uma louca e perigosa
heresia? …
Então, qualquer um, lúcido, em paz
profunda, ali não via
O que toda aquela santa gente ali
sentia,
O que tão simples e puro ali
acontecia?...
Só não compreenderia um louco…
Louca a Terra…
Terra louca,
Que a Terra roda
Quando roda a cabeça de um louco…
José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Tartaruga Editora, 2010.
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