sexta-feira, 16 de abril de 2021

Límpida a palavra

 



Um dos poemas escritos no dia 16 de Abril, este em 2014, em livro de 2020.



Límpida a palavra

 

  

Não o vi, era hoje ainda cedo

 

(e, mesmo que não fosse,

o meu relógio está desde ontem parado,

creio que é da pilha gasta,

só pode ser, do mal  o menos…,

parece que tudo se gasta mais neste tempo

a tanta gente que por aí conheço…),

 

mas sei com a certeza de Galileo Galilei

 

(apesar de ele ter abjurado diante daquele tribunal

daqueles senhores e daquelas fogueiras,

como nós, por vezes,

quando o medo nos prende dentro de nós

agarrados a um fio de vida que ainda nos corre…)

 

que o Sol chegou à hora certa

à minha porta

 

(pouco agora aqui importa quem chegou,

se o Sol que andou

se a Terra que chegou à hora certa

ali mesmo à minha porta…)

 

e o meu pássaro

cantou por entre os ramos e as folhas verdes

das árvores e das heras dos quintais

numa voz limpidíssima

sem uma sombra só de sotaque estranho

de outras terras

que o tivessem aprisionado

 

(de tanto gostar dele digo que o pássaro é meu

mas eu sei que ele é nosso,

é de todos

por ele voar

e para todos nós ele cantar…)

 

porque o meu pássaro canta

de ser livre como eu gostaria

que livre fosse um país

e límpida a palavra

que se cantasse

em poemas

ao Sol

na Terra

solidária

que livre girasse…

 

2014-04-16


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012-2016), Livro cinco, 5/10 (Janeiro a Junho de 2014), 264 pp, 2020.


* * *


Jrd, 2021-04-16



Facebook:


https://www.facebook.com/jose.rodriguesdias/


Sem comentários:

Enviar um comentário