Escrito no dia 6 de Junho, entre outros, este em 2012. A foto é de hoje.
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Ângulo recto
Pego numa simples pedrinha,
uma pedra qualquer
colhida ali mesmo da terra,
e prendo-a a um qualquer fio
que enfio na boca do poço
e por entre os meus dedos
deixo o fio escorregar incerto
de um para outro lado a oscilar…
Agita-se a água deitada ao
acordar
em sobressalto
no choque inesperado e grita,
grita
do centro para fora a ondular…
Espero,
o tempo está ali todo, infinito,
o tempo todo do mundo…
Observo no meu tempo.
Lava a água a pedra suja da
terra,
talvez uma simples pedrinha...,
enquanto a água a pedra vai
polindo
imperceptível ou discreta
em suaves ondas
como em continuadas rondas
de demorada negociação…
Depois, a água a si própria se
lava
da sujidade da pedra deixada,
assentando-a suavemente no chão,
naturalmente, sem humana mão…
Até mesmo as arestas agrestes
da própria pedra da terra
para o fundo cairão…
Observo, entretanto,
que o movimento vai parando…
No fim, uma linha vertical,
um fio-de-prumo
aprumando o meu olhar do cimo ao
fundo,
e uma superfície horizontal,
um nível,
nivelando as rugas e os
desníveis do mundo…
E um ângulo recto,
recto em todas as direcções e
sentidos,
bem esquadrado em divina
proporção,
em rectidão e harmonia
como um dia será neste nosso
chão…
2012-06-06
in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016),
Livro um, 1/10 (Janeiro a Junho de 2012), 280 pp, 2018.
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