segunda-feira, 7 de junho de 2021

Ângulo recto

 


Escrito no dia 6 de Junho, entre outros, este em 2012. A foto é de hoje.


* * * 


Ângulo recto


Pego numa simples pedrinha,

uma pedra qualquer

colhida ali mesmo da terra,

e prendo-a a um qualquer fio

que enfio na boca do poço

e por entre os meus dedos

deixo o fio escorregar incerto

de um para outro lado a oscilar…

 

Agita-se a água deitada ao acordar

em sobressalto

no choque inesperado e grita,

grita

do centro para fora a ondular…

 

Espero,

o tempo está ali todo, infinito,

o tempo todo do mundo…

 

Observo no meu tempo.

Lava a água a pedra suja da terra,

talvez uma simples pedrinha...,

enquanto a água a pedra vai polindo

imperceptível ou discreta

em suaves ondas

como em continuadas rondas

de demorada negociação…

Depois, a água a si própria se lava

da sujidade da pedra deixada,

assentando-a suavemente no chão,

naturalmente, sem humana mão…

Até mesmo as arestas agrestes

da própria pedra da terra

para o fundo cairão…

  

Observo, entretanto,

que o movimento vai parando…

 

No fim, uma linha vertical,

um fio-de-prumo

aprumando o meu olhar do cimo ao fundo,

e uma superfície horizontal,

um nível,

nivelando as rugas e os desníveis do mundo…

 

E um ângulo recto,

recto em todas as direcções e sentidos,

bem esquadrado em divina proporção,

em rectidão e harmonia

como um dia será neste nosso chão…

 

2012-06-06


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), 

Livro um, 1/10 (Janeiro a Junho de 2012), 280 pp, 2018.


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