dom Quixote, Suplemento de Artes e Letras do Diário do Sul, 2021-12-13. |
Mudar a pensar
Quanto caminho tens por
certo a percorrer!
Quanto caminho tens para
cair e te erguer,
podendo tal tanto não te
acontecer
se tal fosse o teu querer
bem querer!
Quantos, sentidos fortes
como tu, contigo, não serão
os que, como tu caindo,
convencidos no caminho,
caindo, nunca mais talvez
se levantarão,
porque não sabendo ainda
como o fazer poderão!
É que,
sabes, digo-to eu agora, divertido mas preocupado,
olhos fixos nos olhos e
olhos no passado,
grande pode ser o ser
físico do teu presente
pujante te parecer;
mas, medita e acredita mesmo, pequeno poderá ainda ser
o saber do
teu inebriado jovem ser, talvez pelo vão poder,
porque tempo não pudeste
ainda ter para mais ter!
Muito poderás ainda ter que
ver,
calado, ouvindo no
silêncio, a pensar,
a interrogar-te, a duvidar,
a pensar muito e a muito
aprender,
ouvindo o silêncio a
ensinar-te a conhecer,
e a conhecer-te, a
apreender!
Mais tarde, depois, no
iniciar da tarde de um certo dia,
no teu justo
e chegado dia, se chegar, se ele te chegar...,
saberás o que bem fazer em
cada novo dia!
Não o fazer de força física
feito,
que depressa, vais ver,
ficará desfeito,
mas o fazer de saber
amadurecido em cada dia!
Lembra-te, se isso
aprendeste e já esqueceste,
ou (ainda) não viveste,
do velho Ancião, imponente,
talvez já doente,
talvez tua Mãe, teu Pai talvez,
no seu
lugar, que ninguém ousa sequer pensar ocupar,
ausente e presente, a tribo
à volta do fogo ardendo,
calado,
respeitado, observando, ouvindo, respeitando,
mas, por fim, Sábio,
ponderando e justo decidindo,
com a luz do fogo
iluminado, iluminando!
Sábio, Ancião,
o jovem caído levantando,
com ternura aconselhando,
talvez tu, se olhares,
o Futuro olhando!
Talvez tu, tu,
com amargura,
com doçura!
Talvez tu!
in José Rodrigues Dias, Poemas em caminhos do vinho e da vida, 290 pp, 2021.
(Retirado do primeiro livro publicado: Braços Abraçados, 82 pp, 2010).
Sem comentários:
Enviar um comentário