quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Acordar


Primeiro livro de Poesia (2010).


Acordar


Deixaste o campo abandonado,
Onde bebeste do cálice da Vida
E comeste do Pão com amor semeado.
Deixaste a Luz do Sol, das estrelas, da Lua,
Com seus naturais encantos e mistérios
Em dias límpidos e noites de sonhos livres
Sem imaginar viver um dia sem o ar da liberdade.

Foste. Livre ou obrigado, foste!

Encontraste-te em cidade sem identidade, perdido,
Em cidade sem sítio onde começa nem acaba.
Procuraste, atarantado, o norte 
que não descortinaste.
No que te parecia ser o raiar de um novo dia,
Sem saberes por vezes se sonhavas ou deliravas,
Procuraste o nascer do Sol que não encontraste.


Cansado, prostrado, suado, ao fim de cada duro 
e longo dia,
Procuraste o pôr-do-sol que antes, tranquilo, tanto
admiraste!
Agora, enraivecido, em nenhum dia o pôr-do-sol
acontecia.
Aquele pôr-do-sol, com que o sonho ainda hoje te
adormece,
No findar de cada dia, deleitado, jamais
encontraste.
Encontraste espessos mantos sem saberes de quê,
Nem porquê, e que culpa tu tinhas, que mal
praticaste,
Envolvendo-te o corpo, cobrindo o universo,
Enevoando-te o pensar do já perturbado
pensamento.
Lembras-te, com intensidade ou apenas só
vagamente,
Daquela luz tépida da noite, ora difusa ora intensa,
Em noite de luar, com sombras de nuvens
vaporosas 
Viajando livres com o vento, soltas no doce luar.

Acorrentado, lembras-te livre em mundos
transparentes,
Em noites claras de luar e de estrelas em campos
sem findar.
Com suores, olhas a luz dos tiros rasgando noites
sem luar
E estremeces no aclarar das noites pelo brutal
incendiar.

É hora de acordar!

É a hora de voltar!


in José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Tartaruga Ed., 82 pp, 2010.

* * *

José Rodrigues Dias, 2019-11-21

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