Sétimo livro de Poesia (2017).
Uma sementeira sagrada, ofício de
templo
Semeei durante a tarde
verdes, variegados,
de estações que hão-de vir
em sentido concreto não
figurado
porque se até um poeta precisa
de comer
para que possa em si nascer o
ainda encoberto
que dizer de mim ou doutro ser
qualquer…
Amanhei a terra
e transpirei
(só lhe faz bem, diz o senhor Doutor)
enquanto certas coisas eu as
ia pensando
e lembrando de antigas
transcendências,
sentindo o sol e a chuva por
ali
em pacto entre si respeitado,
breves ou longas
intermitências,
como se em discreta oferenda,
dádiva ao homem, pequeno ali,
que os olha, baixando e
levantando o olhar
em sinal de respeito, dentro
de si,
olhando quase como um tolo
sem nexo, eu sei,
e sem resto de razão,
dir-se-á um homem que se olha
grande
mas que nunca na terra
um só grão
um dia só, um só, semeou…
Semeei um canteiro de futuro
quando as sementes
as entreguei quase
religiosamente à terra
e as envolvi no seu próprio
ventre
de renascimento
com as minhas próprias mãos
sem sombra
como em ofício de um enorme
templo.
Sei que o canteiro vai nascer
e ser canteiro de verdes, de
futuro,
eu sei que tudo vai renascer!
in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão,
Ed. Forinfor, 152 pp, 2017.
* * *
José Rodrigues Dias, 2019-11-27
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