Terceiro livro de Poesia (2015).
Naquele tempo, eu criança, a Luz…
Teria eu doze ou treze anos…
Catorze?... Talvez não…
Não havia luz eléctrica,
a luz era a do Sol, da Lua,
do azeite na candeia, do
petróleo
e era a daquela pedra
mágica
no candeeiro
que com água ardia
como ardia em furo de batata
crua,
nós, Mãe,
ao lume em espera,
nós, Pai,
a noite longa no olhar…
E era a luz das estrelas, de
Guerra Junqueiro…
Assim em Talhas, a minha
aldeia,
era assim,
eu, nós, tudo, o tempo todo
escuro…
E eis que uma pilha de pequena
lanterna
e um pequeno circuito eléctrico
construído
de eu o ter no Porto no
colégio aprendido,
e eis que uma luz, primeira,
no meu quarto, iluminado,
eu fascinado, luzia, pioneira,
naquele tempo, eu, garoto,
a aldeia com luz de candeia,
eu, assim, tão límpida a luz…
Algum tempo depois
(dois, três anos?...,
talvez, quem sabe…,
se já lá vão cinquenta
anos!…),
e eis na aldeia a
electrificação
e o momento da inauguração…
Olhei, então, e fixei uma
lâmpada,
era ali junto à Igreja,
era a noitinha,
nem se via
nem deixava de se ver,
era noite e era dia…
E eis que a minha lâmpada não
se acendeu
(as outras, sim, porque o oh! da gente
logo aí aconteceu,
quente...),
aquela lâmpada, que fizera
minha,
ali junto da casa de Deus, não
se acendeu
e nunca eu soube o porquê,
logo eu, exactamente…
Que sombra de nuvem negra a teria
encoberto,
logo ali, logo naquele
momento, aquela minha luz
que no meu quarto eu antes a tinha
descoberto?…
Repara,
digo-me agora em templo,
aí tens!…
Creio que vem daí
o fascínio do teu olhar
pela coisa da Luz,
de certos encontros
o caminho,
e de desencontros,
à procura da alteridade
em ti, no outro,
em mim, em liberdade…
2015-06-01
in Fiat Lux (no ano da Luz), Ed. de Autor, 90 pp, 2015.
* * *
Jrd, 2019-11-23
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