quarta-feira, 4 de março de 2020

Grato tempo!




Grato tempo!


Levo sempre comigo o tempo
em qualquer caminho e a todo o momento,
sempre o levo, nunca esquecido o deixo
(como lá soía dizer-se da capa e da merenda 
in illo tempore),
muito menos quando o caminho é arriba acesa
quando a subo
e mais ainda quando a desço
e se maior porventura for o temor do medo
maior a procura
dessa mão nessa altura
em que uma escorregadela o chão mo tira
e uma queda ao chão me leva...

(Todo o homem tem sempre algum medo
em alguma altura de procura)…
  
Levo sempre o tempo comigo
quando aprendo e quando ensino,
por onde fui quando aquele era
e por onde vou
mesmo se outro ali sou,
quando soletro letra a letra e a palavra se fala,
quando tudo terminado por fim tudo se cala,
quando parece que tudo se esquece
e logo depois tudo nítido reaparece,

tudo com o tempo eu partilho
em cada momento do caminho
por onde fui
e por onde vou
onde inteiro só completo sou
com esse meu velho amigo
na aragem da tarde em que agora estou…

E agora, olhos nos olhos, eu estou certo agora
que ele nas arribas, em cada nova aresta viva,
enquanto eu paro e descanso, ele é uma lima
sem uma só pergunta nem mas e sem demora…

Grato tempo!

2014-08-27

In José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar,
Ed. Forinfor, 178 pp, 2016.


* * *

Jrd, 2020-03-04

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