Multiplicação do pão
Repito-me hoje
nos actos,
repito os passos:
Mando as ervas daninhas
aos gambozinos e às
urtigas
remexendo fundo a terra,
na terra ponho uma mão de estrume
e repito, repito,
repito o acto de remexer bem a
terra,
abro bem alinhados os sulcos,
como eu gosto, com um segmento
de recta,
abrindo certos os meus versos.
Pego na semente de batata
como ela própria olhando me
diz
seja ora inteira ora cortada,
e alinho-a nos sulcos direitos
deitada de costas e, então,
tapo-a, quente a mão,
nos lençóis de terra
passada...
Depois e em silêncio,
como se ofício em templo
sagrado,
como uma sentença:
Sossegai e dormi um pouco agora
e tranquila vos seja a noite,
leve e macia a terra...
Agora vos deixo, vou-me
embora...
Mas ao abrirdes os olhinhos
em pequenos assomos de
rebentos
cá estarei que logo
voltarei...
A fome e a sede,
não as temais, deixai lá,
delas vos livrarei...
Das maleitas,
eu, eu próprio, eu
vos limparei...
E, por fim, um sorriso nos olhos,
por fim voltarei e juntos nos
iremos,
sacos de nós cheios aos
molhos...
2017-01-24
in José Rodrigues Dias, Da semente, Ed. Forinfor, 254 pp, 2018.
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Jrd, 2020-02-21
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Jrd, 2020-02-21
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