sábado, 29 de fevereiro de 2020

O canhão no Sítio da Nazaré




O canhão no Sítio da Nazaré


Tu me afrontas,
do alto me provocas
como cão
sem dono nem tino
que dia e noite
me ladra,
ladra...

Eu sou este mar,
uma terra de imensa paz
onde um homem se refaz
e se vem banhar...

Mas tu do alto me afrontas
e em certos dias
como santo
em desespero
neste pensamento
disperso
em ondas de muita espuma
navegando o tempo
me perco...

E quando o grande vaso
de água se enche e extravasa
da tua permanente provocação
sobre ti em arco disparo
o meu canhão
que em mim guardo
de estranho olhar
então,

mas ainda assim, olha, repara,
isso é amor,
porque é uma imensa diversão
o que o homem além aguarda,
não é furor,
isto é ícone duma velha paixão...

2015-01-21

In José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Segunda viagem (Trilogia), Ed. Forinfor, 228 pp, 2020.

Jrd, 2020-02-29

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