quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Acordar

 


Acordar


(Lembrando... 

Outro poema do meu primeiro livro de Poesia, quase a fazer 10 anos).



Deixaste o campo abandonado,

Onde bebeste do cálice da Vida

E comeste do Pão com amor semeado.

Deixaste a Luz do Sol, das estrelas, da Lua,

Com seus naturais encantos e mistérios

Em dias límpidos e noites de sonhos livres 

Sem imaginar viver um dia sem o ar da liberdade.


Foste. Livre ou obrigado, foste!


Encontraste-te em cidade sem identidade, perdido,

Em cidade sem sítio onde começa nem acaba.

Procuraste, atarantado, o norte que não descortinaste.

No que te parecia ser o raiar de um novo dia,

Sem saberes por vezes se sonhavas ou deliravas,

Procuraste o nascer do Sol que não encontraste.


Cansado, prostrado, suado, ao fim de cada duro e longo dia,

Procuraste o pôr-do-sol que antes, tranquilo, tanto admiraste!

Agora, enraivecido, em nenhum dia o pôr-do-sol acontecia.

Aquele pôr-do-sol, com que o sonho ainda hoje te adormece,

No findar de cada dia, deleitado, jamais encontraste.

Encontraste espessos mantos sem saberes de quê,

Nem porquê, e que culpa tu tinhas, que mal praticaste,

Envolvendo-te o corpo, cobrindo o universo, 

Enevoando-te o pensar do já perturbado pensamento.

Lembras-te, com intensidade ou apenas só vagamente,

Daquela luz tépida da noite, ora difusa ora intensa,

Em noite de luar, com sombras de nuvens vaporosas

Viajando livres com o vento, soltas no doce luar.


Acorrentado, lembras-te livre em mundos transparentes,

Em noites claras de luar e de estrelas em campos sem findar.

Com suores, olhas a luz dos tiros rasgando noites sem luar

E estremeces no aclarar das noites pelo brutal incendiar.


É hora de acordar!

É a hora de voltar!


in José Rodrigues Dias, Braços Abraçados, Ed. Tartaruga, 82 pp, 2010.


* * *


Jrd, 2020-10-28


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