terça-feira, 14 de julho de 2020

Desço a outros tempos




Desço a outros tempos



Desço a outros tempos
quando as estevas melosas floriam
e as giestas, e as urzes,

carreirão da costinha
abaixo, depois acima,

quando nos lameiros pela Primavera
havia as barrigadas fartas de salada…

Volto ao nascer vermelho e grande do Sol
do lado de lá do rio, que pesado era o Sol!…,

fragas e encosta
ele acima, o rio quase seco em baixo,
eu ali pelo prado,

quando com um carolo de pão no bolso
e uns figos pretos da figueira fresca, frondosa,
ao pé da nora matava depois eu o bicho...

E esta lágrima…

Hoje, hoje volto todos os dias ao campo
onde descanso os olhos,
mas de raiva por vezes de novo os canso

olhando a cidade murcha e triste,
sem flores, sem cores, com dores,
e dorido tanto o olhar de cansaço

de tanto ver e pouco ser
e agora do que vejo longe e perto
tão negro de incendiado...

Hoje, hoje volto todos os dias
ao meu campo onde as flores plantadas
dão flores e frutos todo o ano,

são as que estão em jarras e taças
das mesas adornadas
de cheiro e sabor a tempo inteiro...

2012-10-06



in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.

* * *   

José Rodrigues Dias, 2020-07-14

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