Desço a outros tempos
Desço a outros tempos
quando as estevas melosas
floriam
e as giestas, e as urzes,
carreirão da costinha
abaixo, depois acima,
quando nos lameiros pela
Primavera
havia as barrigadas fartas de
salada…
Volto ao nascer vermelho e
grande do Sol
do lado de lá do rio, que
pesado era o Sol!…,
fragas e encosta
ele acima, o rio quase seco em
baixo,
eu ali pelo prado,
quando com um carolo de pão no
bolso
e uns figos pretos da figueira
fresca, frondosa,
ao pé da nora matava depois eu
o bicho...
E esta lágrima…
Hoje, hoje volto todos os dias
ao campo
onde descanso os olhos,
mas de raiva por vezes de novo
os canso
olhando a cidade murcha e
triste,
sem flores, sem cores, com
dores,
e dorido tanto o olhar de
cansaço
de tanto ver e pouco ser
e agora do que vejo longe e
perto
tão negro de incendiado...
Hoje, hoje volto todos os dias
ao meu campo onde as flores
plantadas
dão flores e frutos todo o
ano,
são as que estão em jarras e
taças
das mesas adornadas
de cheiro e sabor a tempo
inteiro...
in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.
* * *
José Rodrigues Dias, 2020-07-14
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