Introspecção
Por entre teus cabelos longos
quase negros
que suaves te correm em
ligeira ondulação,
o olhar denso de dentro do teu
ser
sobre o que és,
ou sobre o que talvez sejas,
de onde vens,
os caminhos que vens abrindo
ou que te trazem,
e talvez para onde queiras
depois ir
ou não ir,
tu,
mulher ainda por amadurecer,
a amadureceres
por entre um sonho doce que te
liberta,
inebriando-te,
e uma nuvem quase invisível de
fumo de cigarro
que quase já te prende,
intoxicando-te…
E tu à janela,
parece-me que estás a uma janela
porque creio que estamos
sempre a uma janela,
querendo tu saber de ti
talvez tu na rua,
ou na lua,
caminhando nela
como se fosses exactamente tu
sem a dor do salto
e o amor sonhado da viagem…
E aqui eu volto a lembrar-me
do princípio da incerteza de Heisenberg
e dessas coisas todas
relacionadas
em que a observação do que é
altera o estado que é
e depois ainda me lembro
daquele outro,
tu sabes,
daquele do conhece-te a ti próprio…
E eu fico ainda mais a pensar
em mim,
nas facetas do meu diverso
por ti em mim olhadas
e no uno,
se é que existe em nós
um uno
porque sempre todos somos
mudança,
logo, penso eu,
sem uma fotografia inteira
ainda que lindíssima
de um certo ângulo
e de um preciso momento
e mesmo sendo genial o
fotógrafo…
2013-10-07
in José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar,
178 pp, 2016.
* * *
Jrd, 2020-07-17
178 pp, 2016.
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Jrd, 2020-07-17
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