sábado, 4 de julho de 2020

Teus olhos assim tão tristes





Teus olhos assim tão tristes

  
Teus olhos assim tão tristes
imaginando, do medo,
a fome de amanhã,
de um amanhã
perto…,

que a fome de hoje ainda tu a enganas
nas demoras da respiração suspensa
até ao dia de receberes,
tu ainda recebes,
menos, sim, menos,
mas tu ainda recebes…

Que vão indo os teus filhos,
tu tens filhos,

os meus filhos, dizes tu para ti
baixinho,

e a casa que também ela vá indo,
porque sem filhos e sem casa
tu não és,

que vão indo
e tu ficas…

Ficas tu
com os teus olhos assim tão tristes
temendo a fome de amanhã,
essa fome dentro de ti
como eu também a sinto,
talvez uma outra fome,
dentro de mim…

2012-09-14

in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro dois, 2/10 (Julho a Dezembro de 2012), Ed. Forinfor, 238 pp, 2020.


* * * 

Jrd, 2020-07-04

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