Estrofe de uma Professora
No início era quase todo o
verbo
por conhecer
e, então, eu em vós
e vós em mim,
juntos o fomos aprender…
Devagar, de mansinho,
sempre de mãos dadas a
caminhar
na regra e na excepção,
soletrando a cantarolar
cada naco do verbo
e a contar cada pedacinho
e depois tudo somar
e multiplicar tudo por todos,
lembrando-nos depois que
podíamos dividir
o verbo por nós já aprendido
pelas meninas e meninos como
vós
com fome do verbo
no tempo de aprender
por não haver
quem o possa com eles
em escola partilhar…
Sorte a nossa
que o verbo desde o início o
tivemos
e todos na escola nos tivemos,
sorte a nossa
na nossa escola
sem ter de andar de olhos
vazios à esmola
de um pequeno naco de verbo
que aqui desde o início
inteiro nós tivemos…
Mas se inteiro o verbo desde o
início o tivemos
nem todo nós o pudemos
conjugar…
Devagar, de mansinho,
desde cada um de vós ainda
rapazinho
(menina ou menino,
vós sabeis,
somos todos iguais),
a soletrar e a cantarolar
(que a nossa vida,
também sabeis,
deve ser alegria),
a cantarolar
cada cantiga do verbo
para inteiro o poder amar…
E cada tempo ser um verso
e todos juntos sermos um dia
na Terra
em humana harmonia
o Poema!
Mas hoje, passado este tempo,
rápido foi o tempo…,
sois agora
a primeira estrofe
escrita
que juntos escrevemos
do Poema!
A primeira estrofe
que já em voo
de mim se liberta,
sim, mas que eu, de mim,
apesar desta minha enorme
pena,
e feliz!, vos digo: voai, sim!
2013-05-21
in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.
* * *
José Rodrigues Dias, 2020-06-16
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