terça-feira, 16 de junho de 2020

Estrofe de uma Professora




Estrofe de uma Professora

  
No início era quase todo o verbo
por conhecer
e, então, eu em vós
e vós em mim,
juntos o fomos aprender…

Devagar, de mansinho,
sempre de mãos dadas a caminhar
na regra e na excepção,
soletrando a cantarolar
cada naco do verbo
e a contar cada pedacinho
e depois tudo somar
e multiplicar tudo por todos,
  
lembrando-nos depois que podíamos dividir
o verbo por nós já aprendido
pelas meninas e meninos como vós
com fome do verbo
no tempo de aprender
por não haver
quem o possa com eles
em escola partilhar…

Sorte a nossa
que o verbo desde o início o tivemos
e todos na escola nos tivemos,

sorte a nossa
na nossa escola
sem ter de andar de olhos vazios à esmola
de um pequeno naco de verbo
que aqui desde o início inteiro nós tivemos…

Mas se inteiro o verbo desde o início o tivemos
nem todo nós o pudemos
conjugar…

Devagar, de mansinho,
desde cada um de vós ainda rapazinho
(menina ou menino,
vós sabeis,
somos todos iguais),
a soletrar e a cantarolar
(que a nossa vida,
também sabeis,
deve ser alegria),
a cantarolar
cada cantiga do verbo
para inteiro o poder amar…

E cada tempo ser um verso
e todos juntos sermos um dia na Terra
em humana harmonia
o Poema!

Mas hoje, passado este tempo,
rápido foi o tempo…,
sois agora
a primeira estrofe
escrita
que juntos escrevemos
do Poema!

A primeira estrofe
que já em voo
de mim se liberta,

sim, mas que eu, de mim,
apesar desta minha enorme pena,
e feliz!, vos digo: voai, sim!

2013-05-21

in José Rodrigues Dias, Chão, da Terra ao Pão, 152 pp, 2017.


* * *   


José Rodrigues Dias, 2020-06-16

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