sábado, 11 de julho de 2020

Gosto de pedras




Gosto de pedras


Gosto de pedras,
amanho-as,
moldo-as
em tamanho e feitio
a meu próprio jeito,

faço delas papel perene
e nelas desenho as letras 
(do tipo itálico e negrito
quando a coisa é solene),

tudo isso faço a cinzel 
e a luz e a fogo
e faço-o o tempo todo,

faço de pedras
palavras
e delas os livros,

faço também caminhos,
casas de homens,
colunas, templos divinos…

Das pedras, bem sortida,
gosto de fazer
uma boa sopa de pedra

que, depois, à noite, saboreando-a,
à mesa posta, me faz sorrir
em luz mui tranquila de harmonia…

As pedras ninguém as leva,
quem as carregaria
pesadas assim
de símbolos de mim,
quem de mim as levaria?...

E levar as minhas pedras para onde,
por que alguém as quereria
se nelas de concreto nada se esconde?!...

2016-06-16


in Fiat Lux (no ano da Luz), 90 pp, 2015.


* * * 


Jrd, 2020-07-11

2 comentários: