quinta-feira, 18 de junho de 2020

Saramago


José Saramago
(Poema escrito no dia da sua morte, 2010-06-18)


Saramago



No dia seguinte ninguém morreu, disseste,
Livro abrindo;
Morte em intermitência…
Hoje, disseram que morreste,
Notícias abrindo;
Morte em permanência…

Agora, José, que morreste,
(Morreste?)
Que outro mar passaste,
Como que a caminho de outra Lanzarote,
Diz, José, há vida em morte
Como há morte em vida sem sorte?
Ou sem norte?
Há intermitências de vida em morte?
Há dor e amor?
Há Criador?

Morto vivo, renasceste depois de morto.
Hoje, morto?
Morto, manter-te-ás vivo, morto!


J. Rodrigues Dias

in Poiesis, Antologia de Poesia e Prosa Poética Portuguesa Contemporânea, Vol. XIX,  Editorial Minerva, 2010. 


* * * 


Jrd, 2020-06-18

2 comentários:

  1. Tens razão, poeta
    Há vivos, que o estando
    a ninguém desperta
    Há mortos, que o estando
    nesse estado
    nos vão despertando

    ResponderEliminar