segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Doutor

 

(O último poema do livro e do ano de 2015 e, por isso, 

aparecendo na contracapa, em excerto).


Doutor


Fina camisa limpa,

barba aparada, cabelo farto grisalho,

tempo sem idade,


com os óculos olhando, pensando,

cachimbo na mão, o porte subido, 

braço erguido, manga arregaçada


(Tens já uns óculos como um doutor,

não sei se falando sério ou apenas para me consolar,

disse, eu garoto, então o director!)


o olhar dirigido para lá,

meio escondido,

fugindo talvez ele de cá...


Um homem pelo olhar se desvia,

quem sabe de uma lágrima que escorre

ou de um sorriso que se esconde,


quem sabe da morte de um amor,

de um hábito, de um porte, de um monge,

que diz o olhar de óculos, doutor?...


(Menos eu agora vendo,

mantendo daquele tempo os óculos,

bem maiores eles sendo!).


E quantos anos o senhor tem, 

caro Doutor,

de que longos caminhos vem?


Olhando um homem pela posição,

cachimbo nobre na mão ou dentes de pobre diabo,

vendo sua cara ver-se-á o coração?


Aquele olhar de Mona Lisa

de onde vem, de onde veio, artista, mestre,

que o meu olhar paralisa?!...


2015-12-28


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro oito, 8/10 (Julho a Dezembro de 2015), 298 pp, 2020.


* * * 


Jrd, 2020-12-28


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