Olhando Túlio Espanca
(e ouvindo Eduardo Lourenço
com Florbela Espanca)
É fim de tarde, quase a noite,
tu olhando ainda pensativo, quase distante,
os claustros da velha universidade,
eu olhando-te…
(Ali ao lado, daqui a um pouquinho,
vai estar o Eduardo Lourenço e nós,
nós, os outros…).
É quase noitinha
mas o branco da cal ecoando pela planície
reflecte ainda tons emergentes da mesma luz
que te guia sempre na busca dos ocultos
para lá da pele difusa dos homens
e das paredes das coisas
dormentes...
Que venha de lá a noite
(digo eu, sozinho, olhando-te)
que a luz ainda assim não se irá,
as letras e as cores não morrerão
nem os números nem as fórmulas
nem em sentido nem em forma
e tu (eu sei) não te vais
(e o Eduardo Lourenço já aí vem…),
tu de rocha
como a tua Florbela,
fino mármore de Vila Viçosa e Estremoz…
(Sabes, ao lado, daqui a nada, na mesma sala,
está quase, quase…,
o Eduardo Lourenço e ela, e nós,
e o neo-realismo e a poesia
e outras coisas que o tempo
nestes momentos sempre nos traz
quando o pensamento se encontra pelos rios
e pelos afluentes se perdendo…).
(Olha, o Eduardo Lourenço já chegou,
veio e cumprimentou-nos,
vem daí tu também…).
2015-01-30
in José Rodrigues Dias, Fiat Lux (no ano da Luz), 90 pp, 2015.
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Jrd, 2020-12-01
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