terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Olhando Túlio Espanca (e ouvindo Eduardo Lourenço com Florbela Espanca)

 

(Vista parcial dos claustros da Universidade de Évora)

Túlio Espanca, Doutor Honoris Causa (Universidade de Évora, 1990)
Eduardo Lourenço, Prémio Vergílio Ferreira (Universidade de Évora, 2001)



Olhando Túlio Espanca

(e ouvindo Eduardo Lourenço

com Florbela Espanca)


É fim de tarde, quase a noite,

tu olhando ainda pensativo, quase distante,

os claustros da velha universidade,

eu olhando-te…


(Ali ao lado, daqui a um pouquinho,

vai estar o Eduardo Lourenço e nós,

nós, os outros…).


É quase noitinha

mas o branco da cal ecoando pela planície

reflecte ainda tons emergentes da mesma luz

que te guia sempre na busca dos ocultos

para lá da pele difusa dos homens

e das paredes das coisas

dormentes...


Que venha de lá a noite

(digo eu, sozinho, olhando-te)

que a luz ainda assim não se irá,

as letras e as cores não morrerão

nem os números nem as fórmulas

nem em sentido nem em forma

e tu (eu sei) não te vais

(e o Eduardo Lourenço já aí vem…),

tu de rocha

como a tua Florbela,

fino mármore de Vila Viçosa e Estremoz…


(Sabes, ao lado, daqui a nada, na mesma sala,

está quase, quase…,

o Eduardo Lourenço e ela, e nós,

e o neo-realismo e a poesia

e outras coisas que o tempo

nestes momentos sempre nos traz

quando o pensamento se encontra pelos rios 

e pelos afluentes se perdendo…).


(Olha, o Eduardo Lourenço já chegou,

veio e cumprimentou-nos,

vem daí tu também…).


2015-01-30


in José Rodrigues Dias, Fiat Lux (no ano da Luz), 90 pp, 2015.


* * * 


Jrd, 2020-12-01


Facebook:


https://www.facebook.com/jose.rodriguesdias


Sem comentários:

Enviar um comentário