sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Senhoras do Ó

 


Senhoras do Ó


O Sol da tarde enche todo o céu

mas dentro é outra a Luz.

Lou Reed deixa vazio na cidade.

O órgão enche todo o silêncio.

A Senhora tem o ventre cheio

e a mão do coração toda aberta sobre ele,

maiores parecendo os seus finos dedos.


Quase a seus pés, 

na nave central, um pouco a oriente,

a senhora, sentada, põe a mesma mão

sobre o seu ventre já em ó grande

e o olha

como a um início de sorriso

e o acaricia

ora em movimentos lentos

com a mão como a da Senhora toda aberta

ora, parando por vezes,

apenas com a ponta dos seus dedos

ligeiramente encurvados, docemente,

como se acariciasse dentro um cabelo

ainda pequenino e frágil…


O órgão enche o grandioso templo

e aquela mão do coração todo o tempo

cobre de pura ternura o pequeno templo

gerado em forma de um ovo e de um ó,

poema sagrado aquele momento

de enternecimento,

profana é qualquer palavra…


2013-10-27


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.


* * * 


Jrd, 2020-12-18


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