Senhoras do Ó
O Sol da tarde enche todo o céu
mas dentro é outra a Luz.
Lou Reed deixa vazio na cidade.
O órgão enche todo o silêncio.
A Senhora tem o ventre cheio
e a mão do coração toda aberta sobre ele,
maiores parecendo os seus finos dedos.
Quase a seus pés,
na nave central, um pouco a oriente,
a senhora, sentada, põe a mesma mão
sobre o seu ventre já em ó grande
e o olha
como a um início de sorriso
e o acaricia
ora em movimentos lentos
com a mão como a da Senhora toda aberta
ora, parando por vezes,
apenas com a ponta dos seus dedos
ligeiramente encurvados, docemente,
como se acariciasse dentro um cabelo
ainda pequenino e frágil…
O órgão enche o grandioso templo
e aquela mão do coração todo o tempo
cobre de pura ternura o pequeno templo
gerado em forma de um ovo e de um ó,
poema sagrado aquele momento
de enternecimento,
profana é qualquer palavra…
2013-10-27
in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro quatro, 4/10 (Julho a Dezembro de 2013), 276 pp, 2020.
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Jrd, 2020-12-18
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