quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O poema denso

 



O poema denso

(Escrito neste mês e dia, em 2013, em livro de 2019)


Não haveria tempo nem espaço

nesse instante por começar

de uma singularidade

com traços sem memória

e o poema, então, seria nada e tudo

em que o verbo disperso

seria coração uno

de um vermelho puro

num só ponto infinitamente denso

talvez de um enorme multiverso

contido numa fórmula ainda por descobrir

mas talvez muito simples

antes de se ter escrito o primeiro esboço de verso

deste nosso universo cheio de quase nada

que agora arrefece…


Acontece tudo logo no big bang

quando o poema denso

do buraco negro daquela noite etéreo se abriu

e no mar floriu

em versos de vapor de água leves

mas quase sempre muito breves

no tempo que agora cresce

sem quase prova de anti-matéria

e quase já sem matéria

que logo escorre da palma da mão

como pó fino de areia

ao entardecer

quando o Sol como Poeta vai à procura

dos cabelos da sua sereia

e com a ternura dos homens os acaricia

em momentos de pouca dura

e de nostalgia…


2013-12-02


in José Rodrigues Dias, Avistamentos de mares, Primeira viagem (Trilogia), 216 pp, 2019.


* * * 


Jrd, 2020-12-02


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