sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Lugar vago



Lugar vago


Vago o teu lugar, vazio

ao lado do meu

mas é o meu coração

sem o teu

que está só

neste tempo de frio

sem o calor da luz

desta inacção


sem pinga de sangue

que a mim mesma me mete dó,

parada, tão exangue…


Nestes tempos de sombra

que de tanta luz foi em arco-íris

correntes de água límpida,


esta minha dor 

agora faz-se de ausência

e a água turva…


Parada, essa corrente

faz-se muda, nada muda,

como morta, demente…


Além, só aquele poente

com um último aceno de luz

em frio de cinza doente…


Que coisa nos aconteceu,

que diabo de palavra se deu,

que deus o teu e o meu…,


que diabo se deu

que o chão todo 

a água o comeu…,


eu com esta fome de ti,

coração o meu só que só chora

desde que foste embora,

que não ri,

eu só, 

tu como se fosses pó

vagando pelo céu fora…


Olha, onde estás?...,

lembras-te como foi sonhada

e por nós feita

a lavra inteira da terra

nesta água de mel e pão

que nos lavava

quando nos amando

em onda ritmada

nos levava

e agora aqui este tempo de colheita

sem grão...,


eu aqui assim parada

tão em vão

sem vontade de nada…


Olha, onde estás?...,


que está o teu lugar vago

e este meu coração vazio aqui

tão só e mesmo assim tão cheio de ti,

louca ainda mais louca por ti,

por aí tu agora vagando…


De mim tu sempre serás,

nós pelas águas pelo vento bolinando,

juntos por tudo seremos,


o amor ainda nós o temos,

venha deus ou o raio do diabo

que um só nos manteremos…


2014-10-18 


in José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar,

178 pp, 2016.

* * *
Jrd, 2020-09-18


2 comentários:

  1. Belo poema. Também a minha vida está a ficar cheia de lugares vagos...

    Abraço

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