Lugar vago
Vago o teu lugar, vazio
ao lado do meu
mas é o meu coração
sem o teu
que está só
neste tempo de frio
sem o calor da luz
desta inacção
sem pinga de sangue
que a mim mesma me mete dó,
parada, tão exangue…
Nestes tempos de sombra
que de tanta luz foi em arco-íris
correntes de água límpida,
esta minha dor
agora faz-se de ausência
e a água turva…
Parada, essa corrente
faz-se muda, nada muda,
como morta, demente…
Além, só aquele poente
com um último aceno de luz
em frio de cinza doente…
Que coisa nos aconteceu,
que diabo de palavra se deu,
que deus o teu e o meu…,
que diabo se deu
que o chão todo
a água o comeu…,
eu com esta fome de ti,
coração o meu só que só chora
desde que foste embora,
que não ri,
eu só,
tu como se fosses pó
vagando pelo céu fora…
Olha, onde estás?...,
lembras-te como foi sonhada
e por nós feita
a lavra inteira da terra
nesta água de mel e pão
que nos lavava
quando nos amando
em onda ritmada
nos levava
e agora aqui este tempo de colheita
sem grão...,
eu aqui assim parada
tão em vão
sem vontade de nada…
Olha, onde estás?...,
que está o teu lugar vago
e este meu coração vazio aqui
tão só e mesmo assim tão cheio de ti,
louca ainda mais louca por ti,
por aí tu agora vagando…
De mim tu sempre serás,
nós pelas águas pelo vento bolinando,
juntos por tudo seremos,
o amor ainda nós o temos,
venha deus ou o raio do diabo
que um só nos manteremos…
2014-10-18
in José Rodrigues Dias, Poemas daquém e dalém-mar,
Belo poema. Também a minha vida está a ficar cheia de lugares vagos...
ResponderEliminarAbraço
Obrigado. Lamento, Maria João. Abraço solidário.
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