quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Um cibinho só de toucinho



(Poema integrado no livro anterior, o décimo nono)


Um cibinho só de toucinho

 

 

Era naquela gaveta,

sim, naquela gaveta do lado esquerdo

da mesa grande da sala

que dava para trás

para o horto onde estava o olmo

em casa do Ti Cândido.

 

Não sei porquê,

a porta da nossa casa

estava fechada.

 

Era Primavera ou Verão,

não me lembro,

tinha eu ido para o campo

para os lados do cando

não me lembro a fazer o quê…

 

Estava naquela gaveta

do lado esquerdo

da mesa grande

um cibinho só de toucinho

num tom branco já meio amarelado

do tempo…

 

Foi raio de luz

que ali se acendeu

e me iluminou

e me encheu

com a imagem do mundo

que sempre me acompanhou…

 

Era um cibinho só de toucinho

que foi marca gravada em garoto

em momento raro de fome,

que sorte a minha…,

que me ficou…

 

Do tamanho do mundo

era um cibinho

de toucinho…

 

2013-04-10


in José Rodrigues Dias, Diário Poético (2012 - 2016), Livro três, 3/10 (Janeiro a Junho de 2013), 266 pp, 2020.


* * * 

Jrd, 2020-09-16

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